domingo, 4 de setembro de 2011

REDESENHANDO METODOLOGIAS, VISUALIZANDO NOVAS FORMAS DE ENSINAR E APRENDER.


FONSECA,Janete Rosa da ¹
FASIPE/ EE Dom Bosco


RESUMO
Com o objetivo de tornar a aprendizagem da disciplina de Sociologia no Ensino Médio extremamente significativa, visando desenvolver um raciocínio e uma abordagem específica no entendimento da realidade social, vem sendo desenvolvida uma metodologia que busca discutir a identidade e a diversidade cultural junto aos alunos de sete turmas do 1º ano do Ensino Médio Integrado. Algumas aulas foram dedicadas à realização e ao acompanhamento de pesquisas, onde foram trabalhadas as cinco regiões do Brasil e em outras a realização de uma Expedição Investigativa onde os alunos puderam realizar uma pesquisa de campo, aproximando-os da realidade cultural do município de Lucas do Rio Verde.  As turmas organizaram a apresentação do resultado de suas expedições investigativas através de cartazes, slides com o registro das imagens obtidas no percurso escolhido e com a apresentação de pratos típicos de cada região pesquisada.
    
       Palavras-Chave: Aprendizagem-Cultura-Metodologia

INTRODUÇÃO
            Já há muito tempo discutem-se metodologias que possibilitem uma aprendizagem significativa para nossos alunos. Mas o que temos presenciado é a mesma discussão sobre os mesmos temas. Nossos alunos continuam decorando para “aprender”, e continuam apresentando as mesmas dificuldades, ou seja, estabelecer relação entre o que aprendem na escola com a vida real. Então inúmeras vezes nos fazemos o mesmo questionamento: como ensinar os conteúdos que estão nos livros didáticos de maneira atraente, instigante e que desempenhe o real objetivo da Escola, a produção de conhecimento? Como fazer de nossos jovens do Ensino Médio verdadeiros curiosos pelo processo de ensino / aprendizagem?Esses questionamentos têm deixado docentes de certa forma temerosos e angustiados quanto à organização de um currículo eficiente e eficaz no que tange a formação intelectual de nossos jovens.
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¹Janete Rosa da Fonseca -Pedagoga, Especialista em Orientação Educacional e em Estratégia Empresarial e Gestão de custos, Mestre em Educação. Docente do Programa de Pós-graduação da Faculdade de Sinop-FASIPE/MT.  Docente da disciplina de Sociologia no Ensino Médio Integrado da Escola Estadual Dom Bosco de Lucas do Rio Verde - MT.



            Não raro, encontramos em propostas pedagógicas a expressão “tornar os alunos críticos, autônomos...” mas o que podemos perceber é que é realmente isso o que querem docentes e discentes, mas a dificuldade sentida parece estar centrada no como fazer. Esta proposta pretende, com base nos resultados obtidos através de uma metodologia diferenciada que foi desenvolvida com sete turmas de 1º ano do Ensino Médio Integrado  a Educação Profissional da Escola Estadual Dom Bosco, situada no município de Lucas do Rio Verde, demonstrar que a efervescência de sala de aula pode contribuir com sua diversidade para um aprendizado significativo que consiga romper com a fragmentação do currículo e com a decoreba do passado.
            Quando o desafio de escrever este artigo foi lançado vislumbrou-se a possibilidade de tornar público o caminho percorrido na construção de uma metodologia diferenciada para resignificar o processo de Ensino/Aprendizagem.
            Não temos a pretensão de esgotar as discussões sobre metodologia, mas sim propor reflexões sobre práticas alicerçadas e desenvolvidas em autonomia, criticidade e criatividade.
            Temos um mundo curioso, interativo e atrativo fora do espaço de sala de aula, então a proposta foi levar toda essa curiosidade e atração para o ensino da disciplina de Sociologia para 210 jovens com idades entre 14 e 16 anos. Como nos fala Antunes, 2002, p.11 “se um médico diante da ausência de saúde de seu paciente, tem o direito de questionar como curá-lo, então todo o professor tem o direito à dúvida de como fazer seu aluno aprender”. Para tal buscou-se construir significados junto aos conteúdos curriculares.


MATERIAL E MÉTODOS

            Para que o conteúdo sobre cultura que faz parte da proposta curricular da disciplina de sociologia, representasse realmente uma aprendizagem significativa para a vida dos jovens adolescentes, organizou-se uma Expedição Investigativa. A proposta visava uma pesquisa de campo onde os alunos divididos em cinco grupos por turma escolheram cada grupo uma região de nosso país, sul, sudeste, centro-oeste, norte e nordeste.
            Após a divisão dos grupos e a escolha da região, foi solicitado aos alunos que fizessem um mapeamento do lugar por onde o grupo sairia para conduzir sua expedição investigativa. Como 2º passo da proposta, todos os alunos pesquisaram sobre a região escolhida e os aspectos referentes à cultura, como comidas típicas, músicas, linguagem regional e aspectos que envolviam clima e relevo.
            Concluída a pesquisa sobre os aspectos de cada região, realizou-se a atividade de mapeamento. Cada grupo marcou a região por onde realizaria a expedição investigativa cujo objetivo era conhecer e reconhecer a diversidade cultural presente no município de Lucas do Rio Verde. Quando os mapas por onde a expedição passaria estavam concluídos, o desafio lançado aos alunos durante a aula de sociologia era a elaboração, pelo grupo, de um roteiro de entrevistas que o grupo faria às pessoas que encontrassem em seu trajeto previamente demarcado. O desafio era elaborar “a boa pergunta” suficientemente aberta para ser considerada exploratória, e suficientemente precisa para delimitar um campo de investigação. Envolvidos na proposta de o que eu quero saber sobre a cultura deste lugar, chegou o tão esperado dia da expedição, onde os alunos munidos de máquina digital para o registro da expedição, folhas de papel A4, canetas, bonés, garrafinhas de água e protetor solar, saíram a campo.
            Todos os grupos levaram um roteiro de entrevista, bem como cada grupo tinha um aluno que exercia as funções de coordenador controlando horário de saída e retorno à Escola, se o mapeamento em aula estava sendo seguido pelo grupo e se todos os integrantes estavam envolvidos no desempenho de suas tarefas. Foram dois dias de expedição, onde os 210 adolescentes assumiram o papel de pesquisadores e consequentemente de produtores do conhecimento.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

            No retorno à sala de aula os alunos tinham mais um desafio. De posse de todas as informações obtidas, realizaram a tabulação dos dados, o que fez com que ficassem informados sobre o percentual de pessoas que compõem a diversidade cultural do município em questão.
            Trabalhou-se com movimentos migratórios, multiculturalismo e conceitos pertinentes às disciplinas de matemática, para elaboração dos gráficos, e geografia para compor os aspectos sobre clima e relevo. O que caracterizou a proposta como atividade transdisciplinar, como tão claramente apresenta Matos em suas reflexões:
“... centrar a análise nos aspectos culturais não deve nos levar a adotar posições culturalistas, mas a examinar de maneira privilegiada ou como porta de entrada, os aspectos culturais dos processos sociais, porém sem perder de vista que estes processos são complexos e que as divisões entre o econômico, o político, o cultural, o comunicacional, etc. são apenas recursos analíticos que devem ser utilizados como perspectivas transversais e integradoras no sentido de atravessar os limites estabelecidos entre as disciplinas, suas formas de investigação e suas tradições relativas a métodos. Neste sentido é que podemos denominar a estas perspectivas de transdisciplinares. Além disso, estas perspectivas devem ser também integradoras”.(Mato 2005, p.157).
 


           

           


           

           
           
            O desafio proposto era responder as seguintes questões: o que aprendemos? Como aprendemos? E o que ensinaremos?
            A resposta a estas questões deixou claro a importância e a aplicabilidade do Ensino de Sociologia no Ensino Médio. È válido ainda destacar o testemunho dos alunos envolvidos sobre o significado da experiência vivenciada
            Nas palavras de uma amostra de 20 alunos envolvidos podemos observar resultados positivos:
            “Estou gostando do método de ensino da professora. Agora sei o que é sociologia, antes nem sabia que existia...”.
            “Essa expedição investigativa foi uma forma legal e interessante de aprender outras culturas...”.
            “Espero ampliar meu conhecimento sobre essa matéria que irá me ajudar a viver em sociedade...”.
            “Aprendi a ter uma visão crítica da sociedade e isso fez com que desempenhe uma relação melhor com a sociedade e essa melhora foi percebida até no meu trabalho. Espero que as aulas sejam sempre assim”.
            “As aulas de sociologia são muito boas, consegui aprender bastante, dentro e fora da Escola”.
            “... as aulas são ótimas e dão motivação para a turma toda.”
            “As aulas são interativas, aprendi coisas que vou usar a vida toda”.
            “Espero que no próximo semestre as aulas de sociologia continuem assim, aprendemos a trabalhar em equipe”.
            “... tivemos aulas variadas aprendi a lidar com o outro, conceitos teóricos e como colocar eles em prática na sociedade”.
            “Quero fazer mais trabalhos como esse de expedição investigativa, pois é um trabalho prazeroso...”.
            ‘...quero saber mais sociologia para poder exercer cada vez mais meu papel de aluno...”.
            “Por mim poderia ter mais aulas de sociologia pelo jeito da senhora ensinar, é a melhor aula”.
            “Aprendi que essa disciplina é muito importante e gosto muito do método de trabalho”.
            “As aulas estão ótimas. Augusto Comte e Emile Durkhein são muito importantes, as aulas práticas tiram todas as dúvidas”.
            “Eu gostaria de ter mais trabalhos assim, pois agente aprende mais e melhor...”
            “Para mim foi maravilhosa, estou esperando outra...”.
            “... estou sendo uma pessoa melhor a cada dia. Aprendi sobre Karl Marx e muitas coisas sobre cultura na nossa expedição. Gente!! É melhor do que pesquisar na Internet!!!”
            “Dessa vez foi diferente, conseguimos trabalhar organizados e sempre se respeitando. Esse é o valor que pretendo levar para a vida toda”.
            “... essa expedição foi igual à sensação de comer um pedaço de chocolate, maravilhoso!!!”
            “Nossa professora nos entregou nas mãos a difícil tarefa de realizar um trabalho de nível de faculdade, uma Expedição Investigativa sobre a cultura em nosso município. Aceitamos o desafio, foi ótimo, aprendi muitas coisas, adoro sociologia”.
            Percebe-se que é possível redesenhar novas idéias e visualizar novas formas de conceber um processo eficiente para tornar eficaz a aprendizagem no Ensino Médio. Com todos os resultados tabulados e já sabedores das peculiaridades de cada região pesquisada, os alunos tiveram a idéia de organizar a apresentação dos trabalhos trazendo um convidado natural da região que predominou no resultado da pesquisa de seu grupo para falar em aula aos demais colegas sobre sua cultura, variações lingüísticas e comidas típicas, o grupo também ficou responsável por pesquisar e servir aos colegas e convidados um prato típico da região.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

            É preciso pensar que uma disciplina como a sociologia pode ser capaz de nos remeter ao espaço educativo com o qual sempre sonhamos. Nada de improvisações, nada de “achismos pedagógicos” é preciso rever metodologias e propostas curriculares, não podemos deixar a sociologia ser vista como a disciplina que pode ser diluída em outras, ou que tem a mesma abordagem da disciplina de Ensino Religioso ou ainda reforçar seu caráter de erudição. É preciso mostrar a aplicabilidade dos conhecimentos de sociologia. O olhar sociológico nos permitirá ver nascer à legião de alunos críticos que há tempo buscamos.
            Esta abordagem que une pesquisa às ciências sociais também pode nos levar a entender pesquisa não como cópia e / ou resumo de capítulos de livros, mas sim como uma intervenção orientada na sociedade em que vivemos.
            Se o que buscamos é autonomia, precisamos de docentes que aceitem mudar seu planejamento anual e rever suas metodologias.
            Ao se perceber a análise que os atores envolvidos nessa proposta relataram, podemos perceber uma teia que une várias dimensões de conhecimento, sentimentos como apreensão, curiosidade, harmonia, aceitação, sintonia do grupo, o que permitiu a elaboração de uma rede conceitual que promoveu o respeito às diferenças, a descoberta, o aprender com o outro a ação-reflexão-ação, o que resultou em uma práxis formativa que permitiu aos alunos estabelecer um histórico da relação com o município de Lucas do Rio Verde, explorar as narrativas de antigos moradores e experiências do grupo, tudo isso alicerçado em um planejamento coerente. Esta proposta teve um duplo propósito, primeiro explorar vários recursos didáticos e em seguida mostrar como ao propor uma prática pedagógica diferenciada pode-se instituir saberes que produzem sujeitos críticos capazes de gestar seu próprio aprendizado.
            Este artigo não tem a pretensão de instituir a prática da expedição investigativa nas disciplinas, mas sim pretende levar a reflexão e ao envolvimento daqueles profissionais que acreditam em uma nova proposta de ensino e no resgate da verdadeira função da Escola: A produção do conhecimento!!!


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANTUNES, Celso. Novas maneiras de ensinar, novas maneiras de aprender. Editora  Artmed. Porto Alegre, 2002.

COSTA, Marisa Vorraber. BUJES, Maria Isabel Edelweiss (org.). Caminhos Invetigativos III. Riscos e possibilidades de pesquisar nas fronteiras. Editora DP&A. Rio de Janeiro, 2005.

D’ADESKY, Jacques. Pluralismo étnico e multiculturalismo. Racismos e Anti-racismos no Brasil. Editora Pallas. Rio de Janeiro, 2005.

GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. Editora Atlas. São Paulo, 2008.

OLIVEIRA, Pérsio Santos. Introdução à Sociologia. Editora Ática. São Paulo, 2008.

PERRENOUD, Philippe. 10 Novas Competências para Ensinar. Editora Artmed. Porto Alegre, 1999.

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. Editora Cortez. São Paulo, 2002.

TOMAZI, Nelson Dacio (coord.). Iniciação à Sociologia. Editora Atual. São Paulo, 2000.

             

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