domingo, 4 de setembro de 2011

ANSEIOS DOCENTES, PRÁTICAS PEDAGÓGICAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM, PARA ONDE OLHAR?


Carlise Pelissari Zacarias de Godoi-UNINOVA¹
Janete Rosa da Fonseca- UNINOVA/FASIPE²
Juliana Zanatta-UNIVOVA³

Resumo: A proposta que trazemos a tona para discussão neste artigo refere-se à necessidade de se desenvolver estudos e pesquisas que possam subsidiar a ação docente frente às dificuldades de aprendizagem. Isto por que se tem plena convicção do papel vital dos professores e suas práticas e entende-se que contribuir com investigações que propicie qualidade a atuação destes profissionais é manter vivo o compromisso com o processo ensino/aprendizagem. O cenário escolhido para realização desta investigação foi uma Escola Estadual no interior do Estado de Mato Grosso, onde se procurou através de uma pesquisa de inspiração etnográfica, analisar como os diferentes atores que circulam nestes espaços educativos convivem com as dificuldades de aprendizagem ali encontradas, qual metodologia por eles é utilizada e como estes profissionais vêem o apoio pedagógico oferecido pela Escola quando do encaminhamento destas dificuldades. Finalmente, além de apresentarmos as principais conclusões obtidas por meio desta pesquisa são apresentadas algumas sugestões de encaminhamentos que permitam reflexões sobre a necessidade de mudanças na formação de docentes para que estes se sintam melhor preparados e consequentemente confiantes quanto a sua atuação em sala no momento de detectar e eleger práticas pedagógicas que se traduzam em reais perspectivas.
Palavras-chave: Aprendizagem. Trabalho docente. Dificuldades. 

Dificuldades de aprendizagem e o espaço de construção do conhecimento

Educar é um desafio, implica parar e reconhecer a necessidade de aprender e de refletir sobre a educação que se pretende oferecer e sobre as condições dessa oferta, no que tange a formação docente e práticas pedagógicas diferenciadas e eficazes. Por isso é necessário que o trabalho educativo vá além do espaço de sala de aula, mas que também possamos refletir sobre os fatores que interferem no processo ensino/aprendizagem que estão presentes em nossa sociedade atual.
Conhecer o aluno dentro de sua realidade como convívio familiar e suas ações diárias são pontos de partida para detectar onde surgem e como podem ser trabalhadas as dificuldades de aprendizagem. Pois nas coisas simples da vida cotidiana, podem constar fontes riquíssimas para descoberta de um procedimento didático adequado.
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¹ Acadêmica do 4ºano de Pedagogia da União de Ensino Superior de Nova Mutum-MT
² Pedagoga, Mestre em Educação,Doutoranda em Educação.Docente dos Cursos de Graduação e Pós-             graduação Latu sensu das Faculdades Uninova- Nova Mutum,MT e Fasipe- Sinop-MT.
³Acadêmica do 4ºano de Pedagogia da União de Ensino Superior de Nova Mutum-MT
É indispensável registrar que equipes multidisciplinares, compostas por médicos, pedagogos, psicopedagogos, psicólogos, professores e demais profissionais envolvidos, cada vez mais, coloquem-se a serviço dos casos de problemas de aprendizagem, colaborando para que as crianças encaminhadas possam desfrutar plenamente dos espaços educativos.
Coloca-se um desafio aos profissionais envolvidos inclusive a escola, de renunciar aos privilégios da visão tradicional e conservadora e começar atuar de forma mais aberta para descoberta de novos conceitos e atuações, visando sempre um estudo integrado que busque uma compreensão global do problema. É necessário que estes profissionais adotem uma postura ética em relação ao aluno, que assim como eles convivem em uma sociedade excludente.
Portanto, diversificar as situações de aprendizagem é adaptá-las às especificidades dos alunos, é tentar responder ao problema didático da heterogeneidade das aprendizagens, que muitas vezes é rotulada de dificuldades de aprendizagens.
Deve-se ter em mente que nem todos os alunos aprendem da mesma maneira e que, portanto as práticas docentes precisam respeitar ritmos, níveis, processos cognitivos, emocionais, orgânicos, familiares, sociais, metodológicos e ainda os de diversidade cultural. Percebe-se que o cotidiano dos professores constitui-se em um constante desafio, pois estas situações são encontradas em um considerável número de alunos que, sem nenhum tipo de deficiência mental, nem privação ambiental, nem sensorial não alcançam o sucesso esperado em suas aprendizagens. Dessa forma nos permitimos perguntar se a formação atual oportunizada aos docentes propicia todos os conhecimentos necessários para identificar e atuar frente às ditas dificuldades de aprendizagem encontradas no espaço educativo e qual o apoio pedagógico oferecido pela instituição Escola quando dessa descoberta.
Considerando esta proposta de pesquisa, o presente trabalho desenvolveu-se em uma sala de terceiro ano de uma escola estadual, sob a observação de acadêmicos (as) do Curso de Pedagogia, contando com a colaboração dos professores da instituição e com o acompanhamento e orientação da professora do curso, pretendeu-se assim desenvolver uma proposta baseada na etnografia.
 Observou-se ainda, além das práticas e anseios docentes que essas dificuldades podem ser desenvolvidas por fatores hereditários, sociais, culturais, pedagógicos, psicológicos e neurológicos. Existem vários conceitos, critérios, teorias e hipóteses que existem como controvérsias que acabam prejudicando o desenvolvimento, compreensão ou quando necessário tratamento adequado.

 Em todas as fazes de formação principalmente nos primeiros anos de vida o individuo ao ser gerado na vida intra-uterina já esta em constante processo de formação até os trinta meses de vida. Podendo assim dentro deste período ocorrer lesões diretas ou indiretas as quais poderão interferir no processo maturacional comprometendo aí o potencial de aprendizagem.
Atualmente, a educação vem passando por profundas transformações, tendo em vista as mudanças constantes que vem ocorrendo no mundo. As novas tecnologias evoluem num ritmo cada vez mais acelerado, e o mundo cientifico também avança constantemente, com novas descobertas e estudos, apontando diferentes metodologias para atuar na sociedade e consequentemente na educação. Diante disso, os profissionais veem-se desafiados a buscarem novos conhecimentos e estratégias de ensino. Faz-se necessário que a comunidade escolar encontre o caminho para a diversidade, engajando as crianças no mundo das diferenças tornando-os verdadeiros cidadãos, isso requer do professor um olhar diversificado para seu planejamento, adequações aos conteúdos e atividades em sala de aula.
        Outro ponto é a importância de se conhecer a história dos alunos, para que os conteúdos a serem estudados estejam de acordo com seus interesses e realidade, já que elas são inúmeras e diferentes na aparência, na sexualidade, culturas, etnias e outros. Não se pode pensar que a inclusão é exclusiva para os portadores de deficiência e que para esta acontecer basta adaptar o espaço físico e ter profissionais qualificados. Alem do espaço físico se faz necessário a preparação voltada para a diversidade rompendo as barreiras do preconceito. Perrenoud, (2002) menciona que esse é o caminho para profissionalização, uma vez que permitira o desenvolvimento da capacidade reflexiva desses profissionais, e assim encontrara meios para atuar com essa realidade, já que não existem fórmulas nem receitas.
            Nesse contexto as mudanças requerem profissionais atualizados e competentes preparados para atuar com diferentes problemas, comportamentos, dificuldades de aprendizagem primárias e secundárias, altas habilidades, deficiência, síndromes, entre outros.
            O fracasso escolar é um dos problemas que as instituições encontram nos dias atuais. Nessa perspectiva o fracasso escolar esta diretamente direcionado ao aluno, especialmente, as suas condições internas de aprendizagem. A escola considera o histórico familiar como causa da maioria dos casos de baixo desempenho escolar, lares desestruturados, pais que não acompanham os filhos e consequentemente crianças desinteressadas em aprender.
           

As dificuldades de aprendizagem referem-se a alguma desordem na aprendizagem geral da criança, provem de fatores reversíveis e normalmente não tem causas orgânicas. O desenvolvimento individual das crianças também é influenciado pela família, escola e comunidade.
                        O processo de aprendizagem não é considerado uma ação passiva de recepção, nem o ensinamento simples transmissão de informação. Esta aprendizagem supõe uma construção de conhecimento através do processo  mental e aquisição de novos conhecimentos, é uma reconstrução interna e subjetiva, processada e construída.
            Os seres humanos precisam de contínuas aprendizagens que começam a ocorrer a partir da gestação. O aprender é o caminho para atingir o crescimento, a maturidade e o desenvolvimento como pessoas num mundo organizado  e nas interações com o meio na organização desse conhecimento.
            A aprendizagem é um processo que ocorre durante toda vida segundo Alicia Risueño a aprendizagem, exige de quem aprende o corpo e o psíquico e os processos cognitivos que ocorrem dentro de um sistema social organizado, sistematizado em ideias, pensamentos, linguagem. (pág 32)
A escola deve então oferecer meios para que a criança vivencie seu processo de aprendizagem e a forma mais conveniente de trabalhar com as mesmas, como: planejar experiências e aprendizagens com propostas integradoras; relações frequentes com os pais e conhecer as possibilidades dos seus alunos, entre outras.
A criança deve sentir-se confiante e segura em relação à família e ao professor, para que possa sentir-se valorizada diante de suas ações, tendo credibilidade em seu potencial e sentindo  que pode aprender a partir de suas dificuldades.  
É fundamental que o professor trabalhe com a criança e não para ela servindo de referencia para a mesma. Faz-se necessário facilitar para que a criança se integre e consiga encontrar a solução por outro caminho, é indispensável que elas e seus pais mediante a intervenção inteligente do professor, recebam uma imagem integradora que conjugue o que sabe e o que não sabe fazer. O que pode e o que não pode. O que agrada e o que desagrada.
Somente a partir da capacidade do docente de pensar no melhor e mais saudável para a criança e sua família e, em segundo plano, nas dificuldades, poderá elaborar um plano que seja efetivo.
             


O desafio do trabalho docente frente às dificuldades de Aprendizagem

         Com o intuito de compreender melhor os diversos fatores causadores das dificuldades de aprendizagem, realizou-se uma entrevista com alguns profissionais da educação diretamente envolvidos nos casos mais específicos dos alunos do terceiro ano da Escola. Foram realizadas perguntas através de um questionário composto por questões abertas e fechadas. Participaram da entrevista: a professora regente da turma, a professora responsável pelas aulas de apoio e a coordenadora pedagógica responsável pelas turmas do Ensino Fundamental da escola.
Em suas concepções acreditam que os principais causadores das dificuldades de aprendizagem dos alunos dizem respeito à falta de interesse, compromisso e falta de estímulo (ambiente familiar inadequado à aprendizagem) e também a falta de pré-requisitos estabelecidos na escola. Contudo, isso acaba gerando conflitos entre educador e educando, escola e família tornando a ambos cada vez mais desmotivados e distantes.
A Escola oferece diversos tipos de materiais pedagógicos para auxiliar no processo ensino/aprendizagem como: material dourado, tampinhas, jogos pedagógicos, alfabeto móvel dentre outros e isso faz com que o educador tenha subsídios na complementação do seu trabalho. A coordenadora participa ativamente orientando e estimulando na concretização de um trabalho significativo tanto para o educador quanto para o educando.
 O grande anseio principalmente das professoras é o atendimento ao aluno no período de contra turno, mesmo a escola oferecendo horários diferenciados para sanar essas dificuldades não vem se obtendo resultados significativos devido às faltas dos alunos. A grande maioria reside em fazendas, dificultando a assiduidade nas aulas de reforço.
De acordo com a presente investigação essas educadoras acreditam que a maior dificuldade de aprendizagem detectada nos alunos está diretamente ligada a disciplina de língua portuguesa, dificultando assim a aprendizagem nas demais áreas, pois a leitura e interpretação são fundamentais para que o aluno desenvolva suas capacidades e habilidades.
A metodologia utilizada pelo professor no processo de ensino aprendizagem é um fator que interfere significativamente, pois cada criança tem seu tempo, suas necessidades e individualidades.
Uma metodologia e conteúdos inadequados para a idade/série podem acarretar desinteresse, desmotivação e conflitos na personalidade do aluno e interferir nas relações sociais e afetivas deste.
A Escola não oferece cursos de capacitação específicos para as dificuldades de aprendizagem, porém procura uma maneira de estimular em conversas a troca de ideias e sugestões de atividades.
Conforme questão levantada a respeito da nova forma de ensino implantada (ensino de nove anos), as respostas não foram unânimes em relação à diminuição das dificuldades de aprendizagem. A coordenadora acredita ser uma inovação positiva, desde que escola, família e comunidade se comprometam e andem juntos. A professora regente da turma onde se desenvolveu a pesquisa em questão vê de maneira positiva, pois dessa forma a criança inicia seu processo de aprendizagem mais cedo, mas, é claro que deve ser de maneira lúdica e prazerosa extinguindo qualquer tipo de rótulo, já para a professora responsável pelas aulas de apoio o ensino por si só não influencia e não é mais anos na escola que diminuirão essas dificuldades e sim a qualidade destinada a esse tempo.   

Cotidiano escolar e o olhar etnógrafo

Aqui neste espaço, vamos apresentar, mesmo que ainda timidamente, tendo em vista as limitações que envolvem a pesquisa nos cursos de graduação em nossa região, o relato da observação realizada dentro da proposta já evidenciada. Trata-se de um estudo observacional, descritivo e de caráter qualitativo, realizado a fim de interpretar o cotidiano escolar dos educandos com dificuldades de aprendizagem. O mesmo foi realizado por acadêmicos do curso de licenciatura plena em pedagogia da faculdade UNINOVA que tiveram nesse momento um duplo desafio, pois se depararam com a prática da etnografia que se caracteriza por uma observação extremamente fiel aos fatos e que impõe o desafio de não permitir ao pesquisador a emissão de juízos de valor baseados em seus sentimentos.  No espaço de sala de aula realizou-se dez horas de observação procurando acompanhar especificamente os casos previamente apresentados como sendo de dificuldade de aprendizagem.
            No início do ano letivo a referida turma contava com trinta alunos e no decorrer do ano muitos deles foram transferidos de escola, restando apenas treze alunos, destes, apenas um reside na cidade e os demais são provenientes das fazendas e sítios, dependendo de transporte para o deslocamento até a cidade.
Durante o acompanhamento da aula observou-se algumas dificuldades de aprendizagem tais como: falta de concentração, dificuldades de raciocínio lógico, dificuldade na leitura, entre outros.
            Na turma há “suspeita” de três casos de hiperatividade, porém somente um deles é comprovado e o aluno faz uso de medicamentos controlados, ainda segundo a professora regente da turma o descaso e abandono da família impedem que a escola encaminhe para um profissional habilitado para detectar inúmeros problemas que os alunos apresentam.
            De acordo com as observações feitas em relação ao caso comprovado de hiperatividade, percebeu-se que o mesmo domina grande parte do conteúdo na oralidade, porém apresenta dificuldades na escrita.
            Nota-se que a professora utiliza metodologia diferenciada com estes alunos, além disso, tenta estimulá-los na tentativa de superar seus próprios limites. Segundo ela isso seria mais fácil se os pais colaborassem e participassem da vida escolar dos filhos, incentivando e apoiando-os. Para a educadora o apoio dos pais é fundamental e serve como estímulo, pois o aprendizado também se dá em casa, um complementa o outro, é a união da escola e família cada um fazendo sua parte em beneficio da criança, para que a sua formação sirva de exemplo para a sociedade.
            A pedagoga trabalha com atividades diferenciadas como ditado, atividades para colorir, jogos educativos, todas voltadas para a alfabetização, em sua opinião o trabalho lúdico desperto o interesse do aluno e a mesma precisa estar trazendo sempre algo novo.
Portanto é preciso ter em mente e trazer para discussão as contribuições de Bossa(2000) quando  nos fala que   ao se tratar de problemas de aprendizagem escolar, de nada adiantam medidas como reforço ou aula particular apenas. Seria como combater a febre sem tratar a infecção. A identificação das causas dos problemas de aprendizagem escolar requer uma intervenção especializada. Essa questão permite muitos desdobramentos. Pode-se perguntar acerca do futuro da Escola frente às dificuldades de aprendizagem cada vez mais significativas no cenário da Educação. Pode-se perguntar como reorientar essa Escola para que ela reprograme-se no sentido de desempenhar novos papéis num mundo cambiante de valores e em constante crise. E pode-se ainda perguntar acerca dos novos papéis que os docentes precisam assumir frente às questões aqui levantadas e ainda pensar em que metodologias propor para atender a diversidade que temos presente em nossas salas de aula.


Nessa abordagem devemos ainda recorrer a Bossa quando esta autora argumenta que
[...] não é fácil para o professor tomar a decisão de encaminhar um aluno para atendimento. Essa decisão requer uma análise cuidadosa da situação e preparo deste profissional para lidar com a reação dos pais que muitas vezes passam a atacar o professor. Na verdade esse ataque consiste em um tipo especial de defesa é como se ao apontar a necessidade de auxílio para que se estabeleça o processo ensino aprendizagem, que se encontra obstaculizado, o professor estivesse responsabilizando os pais e o aluno pela problemática. (2000, p. 15,).
As interrogações aqui propostas não podem absolutamente serem consideradas definitivas. Elas são produto de reflexões coletivas que, essencialmente situaram-se no nível de discursos derivados de diferentes lugares, uma vez realizadas as observações em sala de aula, o que nos permitiu acompanhar o desenvolvimento de propostas pedagógicas e da interação entre professor e aluno, levamos o registro destas observações para discussão com o grande grupo de futuros pedagogos. Todas as observações foram registradas em um diário de campo que era elaborado ao final de cada observação, quando o grupo de acadêmicos pesquisadores retirava-se do ambiente de observação, nesse sentido afirma Santos que a pesquisa de inspiração etnográfica¹, nos permite olhar com a experiência de ter estado lá e escrito aqui. Desta forma conclui o autor:
A experiência etnográfica passaria por ter estado lá, tendo que descrever aqui (na volta da viagem), com o auxílio de cartões postais, de filmes, de fotografias, de objetos, de roupas típicas, entre outras coisas a cultura, a “realidade” lá observada. Isto é, a “realidade” constituída pelos olhos do etnógrafo, é através desta experiência que ele é autorizado a falar.  (Santos, 2005, p. 10, grifos do autor).
Mesmo a Escola sendo um terreno já conhecido, a prática da etnografia nos permitiu olhar para este cenário educativo com outros olhos, de outra posição, inicialmente é preciso obter o sim da escola, o sim da professora e ainda o sim dos alunos que estão sendo observados e embora sendo aceita a proposta estávamos ocupando ali uma posição que nos levava a certo estranhamento, pois certamente todos aqueles olhares dirigidos a nossa presença levantavam muitas indagações e sabíamos que nossa estada lá dependia de nossa capacidade de observar sem interferir no objeto de observação. Esta metodologia de investigação pressupõe que é somente através da imersão no cotidiano de outra realidade que se pode chegar a compreendê-la.
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¹Utilizamos essa expressão por que não temos a pretensão de considerar esta investigação como sendo genuinamente etnografia pois ainda estamos construindo referenciais neste campo investigativo.
Ainda cabe aqui apresentar o que os professores que participaram desta pesquisa destacam quando questionados sobre as atividades destinadas a formação docente para atuar frente as dificuldades de aprendizagem, segundo estes o Estado disponibiliza formação na sala dos professores coordenada pelo CEFAPRO e cursos online, já uma outra profissional da mesma instituição disse que “sinceramente não” (grifo nosso), as discussões que ocorrem na sala do Professor durante os momentos de formação são apenas envolvendo questões burocráticas. Esta mesma profissional ao ser questionada sobre uma proposta de trabalho diferenciada para atuar junto aos alunos que apresentam alguma dificuldade de aprendizagem relatou não ter desenvolvido nenhuma proposta diferente por que os mesmos já têm as aulas de articulação uma vez na semana no horário contrário da aula.
Na perspectiva de Perrenoud, é necessário mais coerência e continuidade de uma aula para outra, além de um constante esforço de explicitação e de ajuste as regras do jogo. Ainda este autor nos fala que (2000, p. 65), “em uma pedagogia de situações problema o papel do aluno é implicar-se, participar, construir...”. E recorrendo novamente a Perrenoud, este nos diz que (2000, p. 65): “a aceitação dos erros dos alunos como fonte de progresso devem ser analisados e entendidos pelo professor”. Dessa forma podemos observar o quanto se torna complexa na medida em que estudamos e pesquisamos a atuação docente frente às dificuldades de aprendizagem, uma nova postura didático metodológico que envolva todos os atores que permeiam o espaço educativo.

Considerações e reflexões
Em geral, a criança aprende quando são oferecidas oportunidades adequadas para a sua aprendizagem, porém pode-se perceber que há uma série de fatores que podem desencadear o aparecimento dos problemas de aprendizagem dentre eles se encontram os fatores orgânicos, fatores específicos, fatores psicógenos e fatores ambientais.
A escola deve levar o reino do saber às crianças e para que isso ocorra se faz necessário que os cursos de capacitação e graduação tenham em seus currículos temas específicos de formação e embasamento para o profissional. Requer, também, maior disposição de recursos materiais e humanos, uma metodologia diferenciada que abranja conteúdos e objetivos funcionais para os alunos, e acima de tudo o respeito pela natureza da criança.
A “obrigação da aprendizagem” deve passar dos portões das escolas e chegar aos lares, como uma continuação e reforço do que se aprende na escola, pois a família deve estar inserida e compartilhar deste processo.
O dever é da instituição, mais especificamente do educador que deve ter subsídios de informação e capacitação para trabalhar com essa realidade mais comum que se imagina, contudo essa responsabilidade é de toda uma sociedade e deve ser compartilhada pelo todo nas ações e nos resultados obtidos.
Portanto, diversificar as situações de aprendizagem é adaptá-las às especificidades dos alunos, é tentar responder ao problema didático da heterogeneidade das aprendizagens, que muitas vezes é rotulada de dificuldades de aprendizagens. A maioria dos docentes recebeu uma formação centrada nos conhecimentos e sentem-se a vontade nesse modelo segundo Perrenoud (2000, p.82): “sua cultura e sua relação com o saber foram forjadas dessa maneira e eles aproveitaram tal sistema, pois seguiram sua caminhada”.
            È necessário um novo olhar para as  prática pedagógicas instituídas e o trabalho docente pois faz-se imperioso que o professor perceba a necessidade de criar vínculos com seus alunos através de atividades cotidianas que nos permitam construir e reconstruir segundo Perrenoud(2000a),as atividades de aprendizagem são, em princípio, apenas meios a serviço de finalidades que autorizam outras trajetórias, nessa perspectiva são supostamente escolhidas em função de uma teoria, daquilo que faz com se aprenda melhor e portanto progrida na formação.
Ainda podemos nos valer das palavras de Philippe Perrenoud (2000, p. 49) a esse respeito:
Para gerir a progressão das aprendizagens, não se pode deixar de fazer balanços periódicos das aquisições dos alunos. Eles são essenciais para fundamentar decisões de aprovação ou de orientação necessárias mais tarde. Esta não é sua única função, uma vez que também deve contribuir para estratégias de ensino-aprendizagem em um grau ou em um ciclo. Longe de constituir uma surpresa, esses balanços deveriam confirmar e aprimorar o que o professor já sabe ou pressente.
Todavia não basta conviver em sala com um aluno, nem observá-lo com atenção para afirmar se este possui ou não alguma dificuldade de aprendizagem é sim necessário que se repense as formações oferecidas aos docentes para que estas formações permitam formar e renovar uma equipe pedagógica que tenha neste encontros o suporte necessário para enfrentar e analisar em conjunto situações complexas, práticas e questões que envolvam realmente o processo ensino/aprendizagem. O conhecimento segundo Perrenoud, não nos permite controlar todos os acontecimentos, mas ajuda a antecipá-los, nomeá-los, desdramatizá-los, fazendo dessa forma com que possamos dispensar a busca de um bode expiatório chamado de “dificuldades de aprendizagem”, esse mito criado e alimentado no meio educativo tem se perpetuado. Sabemos da dificuldade que existe em abandonar um vicio uma verdade, um hábito, um chavão, mas é preciso rever como já dissemos anteriormente os espaços e conteúdos destinados a formação docente, nosso intuito é contribuir com alguns dados e sugestões para que se possa adicionar mais alguns elementos as reflexões e instropecções, pois sempre que nos apropriamos de novas informações damos inicio em mudanças significativas em nosso fazer docente. Em síntese, aprender é tarefa do aluno, independente do nível de conhecimento, ensinar é tarefa do professor, que deve desafiar no processo de reconstrução dos saberes e apoiar e intervir nas dificuldades em todo o momento.

Referências
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COSTA, Marisa Vorraber;BUJES Maria Isabel(Orgs). Caminhos Investigativos III- Riscos e possibilidades de pesquisar nas fronteiras.Editora DP&A,Rio de Janeiro, 2005.

DEMO, Pedro. Educar pela pesquisa. 6ª edição. Campinas, SP: autores associados Ltda, 2003.

FÀVERO,Eugênia Augusta Gonzaga,  et all. Atendimento Educacional Especializado. Aspectos Legais e Orientações Pedagógicas. SEESP/SEED/MEC. Brasília/DF,2007.

GAMES, Ana Maria Salgado. Dificuldades de Aprendizagem. Ed. Grupo Cultural.

GIKOVATE, Flávio.A arte de Educar.Nova Didática, Curitiba,2001.

TONINI, Andréa. Cadernos de educação especial.

PERRENOUD, Philippe. 10 Novas Competências para Ensinar. Editora Artmed.Porto Alegre,2000.
___________________. Construir as Competências desde a Escola. Editora Artmed,Porto Alegre,2000.

ROPÈ,Françoise;TANGUY, Lucie(Orgs). Saberes e competências.Editora Papirus,Campinas São Paulo,1997.

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