domingo, 4 de setembro de 2011

A gestão Escolar e suas implicações no currículo: A produção de Identidades na Sociedade do Conhecimento .


Janete Rosa da Fonseca¹

Resumo: A presente proposta traz para discussão uma reflexão desenvolvida junto aos acadêmicos do quarto ano de Pedagogia de uma instituição de Ensino Superior situada na região norte do Estado de Mato Grosso. Percebeu-se que a ementa da disciplina de Gestão do Conhecimento Pedagógico traz como tema para discussão, a análise crítica e histórica da estrutura da sociedade brasileira, a compreensão da relação de poder no cotidiano escolar e suas implicações no currículo. Porém, julgou-se necessário levar os acadêmicos até o centro dessa discussão ao propor a eles que organizassem a partir dos conhecimentos adquiridos durante a disciplina um evento municipal envolvendo os representantes da gestão escolar para que estes juntamente com os acadêmicos do curso discutissem o papel do gestor e sua implicação no currículo e a produção de identidades que o currículo proporciona junto à tão decantada sociedade do conhecimento
Palavras-Chave: Currículo. Identidade. Representações.

Abstract
This proposal brings to the table a discussion developed along with scholars of the fourth year of education of a higher education institution located in northern Mato Grosso. It was noticed that the menu in the discipline of Knowledge Management Education Programme has as theme for discussion, critical analysis and historical structure of Brazilian society, understanding the power relationship in the daily school curriculum and its implications. However, it was deemed necessary to take the students to the center of this issue by proposing to organize them from the knowledge acquired during the course an event involving representatives of the municipal school administration so that they and the students of the course to discuss the role of manager and their involvement in the curriculum and the production of identities that the curriculum provides with the much vaunted knowledge society

Keywords:Curriculum.Identity.Representations.

Introdução

            A poesia de Eduardo Galeano, escritor uruguaio, nos faz compreender  por que nós educadores,estamos sempre em busca de algo novo, de algo que possa ressignificar o currículo e suas representações junto a alunos e professores, quando ele nos diz que toda vez que caminhamos dez passos, o horizonte se afasta dez passos mais e que por mais que caminhemos nunca o alcançaremos. Assim nos parece ser a definição de currículo e o seu conseqüente entendimento por parte daqueles que deveriam entender e compreende-lo. A escola possui uma estrutura organizacional constituída sob dois enfoques: o administrativo e o pedagógico por conta disso acaba se constituindo em um espaço privilegiado de convívio onde fazem parte deste convívio as relações de poder que são discutidas através da representação que este poder ocupa na discussão central do currículo, perpassando dessa forma pela construção de identidades. Dessa forma busca-se trazer para o centro dessa discussão uma reflexão desenvolvida junto aos acadêmicos do quarto ano de Pedagogia de uma instituição de Ensino Superior situada na região norte do Estado de Mato Grosso.
            Ao iniciar o ano letivo com a proposta de ministrar a disciplina  de Gestão e organização do Conhecimento Pedagógico, percebeu-se que a ementa da disciplina em questão traz como tema para discussão, a análise crítica e histórica da estrutura da sociedade brasileira, a compreensão da relação de poder no cotidiano escolar e suas implicações no currículo. Porém, julgou-se necessário levar os acadêmicos até o centro dessa discussão ao propor a eles que organizassem a partir dos conhecimentos adquiridos durante a disciplina um evento municipal envolvendo os representantes da gestão escolar para que estes juntamente com os acadêmicos do curso discutissem o papel do gestor e sua implicação no currículo e a produção de identidades que o currículo proporciona junto à tão decantada sociedade do conhecimento.
Estiveram envolvidos na organização do evento, na pesquisa e elaboração de questões que seriam levadas para a plenária, 36 acadêmicos, foram convidados 6 gestores do município, representantes da Educação em nível municipal, estadual e da rede privada de Ensino, bem como os representantes do município sede da Fundação Educacional de Ensino Superior mantenedora do Curso de Pedagogia.
Baseando-se na problemática de como organizar experiências de aprendizagem para um ensino eficaz no curso de Pedagogia é que se pensou em elaborar esta proposta. Para tal entende-se que cabe aqui neste espaço retomar um pouco da história da criação do curso de Pedagogia, uma vez que assim como a legislação da Educação no Brasil apresentou vários enfoques para a definição do currículo desde a criação da primeira Lei de Diretrizes e Bases a lei nº 4024/61 de 20 de dezembro de 1961, passando pela 5692/71 de 11 de agosto de 1971 até chegar na 9394/ 96 de 20 de dezembro de 1996, o curso de Pedagogia também sofreu inúmeras modificações em suas diretrizes curriculares nacionais.
O que não impediu que questões como a constituição de um currículo que privilegie a produção de conhecimentos significativos e o consequente desenvolvimento de sujeitos com consciência critica continuasse na tônica da discussão entre pedagogos e futuros pedagogos. Neste informe de análise curricular aqui apresentado procurar-se-á mostrar como dito anteriormente uma breve retrospectiva histórica do Curso de Pedagogia no Brasil, uma reflexão sobre o conceito de currículo, uma abordagem sobre o significado das representações obtidas no currículo e ainda uma análise sobre cultura e identidade no espaço educativo. E ainda refletir criticamente sobre a atuação do profissional egresso dos cursos de Pedagogia e suas representações na sociedade do conhecimento.

Breve contextualização histórica do curso de Pedagogia no Brasil
            Vamos nos reportar inicialmente a Durkheim (1985, p.51), que identifica três sentidos para a noção de pedagogia: a) a pedagogia como a arte do educador; b) a pedagogia como reflexão sobre a ação educativa; e c) a pedagogia como doutrina educacional. Para o autor, a segunda concepção é a que mais esclarece o sentido da pedagogia, que consiste, segundo ele, em uma certa maneira de refletir sobre as coisas da educação. Considera-se que o objeto da Pedagogia, como ciência da educação, será o esclarecimento reflexivo e transformador da práxis educativa.
Durkheim propõe a reflexão sobre as coisas da educação; pode-se ampliar a intencionalidade dessa reflexão: refletir para transformar; refletir para compreender, para conhecer e, assim, construir possibilidades de mudança das práxis.
            Essa mudança que se coloca em relação à definição de Durkheim se justifica, uma vez que os estudos contemporâneos sobre a formação de professores demonstram que a prática docente é uma prática sócio-histórica, que se organiza e se desenvolve através de saberes próprios que a qualificam como uma capacidade que pode ser cientificamente desenvolvida e transformada. A docência passa a ser vista para além da arte.
Com efeito, a década de 1930, esteve marcada por intensas reformas entre elas, podemos mencionar a implantação do Curso de Pedagogia pelo Decreto-Lei No. 1190, de 4 de abril de 1939, que organizou a Faculdade  Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil. 
            O Decreto instituiu o chamado "Padrão Federal", que foi adotado como modelo para os currículos básicos de todos os cursos superiores no país que tinham um duplo objetivo de formar bacharéis e licenciados para as áreas específicas e para o setor pedagógico.  Assim, o licenciado em Pedagogia devia fazer o Curso de Didática que o habilitava para a docência das disciplinas específicas do Curso Normal, como também formava o "técnico em educação", o equivalente hoje ao Especialista em Educação.
O Curso de Pedagogia  surgiu, durante o regime autoritário e unitário conhecido como Estado Novo, período caracterizado por uma ideologia antiliberal e antidemocrática, marcada por uma política de corte fascista que pretendia eliminar todas as forças de resistência existente no país. (BRZEZÍNSKI, 1996)
            A partir de 1945, iniciou-se a fase de redemocratização do país, caracterizada pela pressão interna dos militares, que contou com o apoio das camadas médias, e facções da classe dominante, ligadas ao capital norte-americano.  Também os Estados Unidos contribuíram para impulsionar a reorganização liberal democrática, implantando-se um regime que tentou acompanhar as exigências do governo Americano, logo da Segunda Grande Guerra e a queda dos regimes totalitários.
            Durante a década de 50 tanto Brasil, como o resto da América Latina iniciaram um longo processo de submissão aos interesses norte-americanos e tentaram adequar-se à expansão do grande capital estrangeiro.  Sendo assim, a industrialização, e modernização dos países era o lema dos governos ditos democráticos. 
A burguesia nacional, representada pelos empresários, era a maior defensora da industrialização, também a classe média, e a frágil esquerda que acreditavam na necessidade de industrializar os países.
            Após a  Segunda Guerra Mundial, o governo  dos Estados Unidos iniciou um extenso programa de assistência técnica aos "países subdesenvolvidos", principalmente àqueles situados na América Latina.
Vale ressaltar que os acordos bilaterais assinados entre os Estados Unidos e o Brasil, imediatamente terminada a Segunda Guerra Mundial  só são homologados pelo Congresso Brasileiro em 1959.
Um acordo firmado em 1957 tinha término previsto para 1964.
Quando o Programa de Assistência Brasileira Americana ao Ensino Elementar, PABAEE,  instalou-se no Brasil, especificamente no estado de Minas Gerais, em Belo Horizonte, em 1957, no Instituto de Educação, encontrou no estado de Minas Gerais, um sistema articulado nas escolas primárias.
            O PABAEE foi fator importante  nos estados de Goiás e São Paulo. A supervisão existente, gestada no âmbito das reformas escolanovistas de Campos, tinha como eixo de suas atividades, a escola.  
            Em 1958, 14 professores , foram enviados à Universidade de Bloomington, estado de Indiana (EUA) para se especializarem e posteriormente fundarem em Belo Horizonte os cursos de formação de supervisores que mais tarde seriam espalhados por todo o Brasil, a partir desses professores treinados em Belo Horizonte e nos Estados Unidos.
            Com a expansão da matrícula do ensino primário e do secundário, cada vez mais eram colocadas as necessidades de mudança do modelo de educação superior, dado que se revelava inadequado, tanto desde o ponto de vista qualitativo como quantitativo. 
            Durante mais de duas décadas o Curso de Pedagogia permaneceu no mesmo formato sendo ainda reforçado pelo Parecer 251/62 do Conselho Federal de Educação, decorrente dos postulados da Lei No. 4.024/61, que se voltava para a qualificação dos serviços educacionais.
            O Parecer regulamentou o currículo mínimo do Curso de Pedagogia, porém apresentou certa ambigüidade, dado que adotou uma postura conciliatória: manifestou que para a continuidade do curso, teria que ter conteúdo próprio; e como este não apresentava conteúdos específicos devia ser extinto, porém ao mesmo tempo, supervalorizando esse conteúdo, protegendo a existência do curso.  O relator do Parecer, Conselheiro Valnir Chagas, considerou conforme a experiência de países mais desenvolvidos a necessidade de elevar o nível de formação do professor através da pós-graduação nas instituições de ensino superior.
A própria LDB de 61 colocava a ênfase nos Institutos de Educação para formar professores para a escola normal "dentro das normas estabelecidas para os cursos pedagógicos das faculdades de Filosofia, Ciências e Letras” (Art. 59, parágrafo único).
            Com a determinação do currículo mínimo do Curso de Pedagogia previsto no Parecer 251/62 se procurava manter uma unidade de conteúdos básicos como critério para transferências de alunos, em todo o território nacional. Mas os educadores do país foram contra este parecer devido que na verdade deixava de lado as características próprias de cada região ao unificar o currículo em nível nacional.
E no Art. 52 prescreveu que o diretor de escola de 2o Grau deveria ser um "educador qualificado".  Assim, os cursos de Administração Escolar e outros criados em 1946, em nível pós-normal, foram incorporados ao Curso de Pedagogia, como de curta duração.
            Podemos verificar que a Lei 4.024 procurava a formação dos recursos humanos para atuarem na área de educação.  Porém ela entrou no cenário brasileiro defasada historicamente, e não conseguiu acompanhar a realidade educacional.  Assim, tanto os setores mais críticos e progressistas da sociedade civil como o próprio governo entendia que era necessária uma reforma dos cursos universitários, para que estivessem à altura das novas exigências da sociedade.
            O Decreto-Lei no. 53 de 1966 determinou no seu Art. 4o  que as Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras das universidades fossem transformadas. Nesse contexto a United States Agency Inernacional for Development-USAID -  teve um papel fundamental na implantação destas reformas na educação.  Os decretos citados foram parte de uma política de doutrinação e alinhamento aos interesses norte-americanos desenvolvida durante a ditadura militar. 
            O Brasil percorreu toda a década de 1960 num clima convulsionado pelas lutas políticas e sociais que envolviam estudantes universitários, e secundaristas, professores, trabalhadores urbanos e rurais, militares subalternos, entre outros.  Sendo assim, as elites brasileiras não duvidaram em apoiar todas as medidas autoritárias que garantiram a continuidade do sistema capitalista. A Reforma Universitária já era uma bandeira de luta dos movimentos estudantis, dos professores e dos dirigentes universitários desde inícios dos sessenta, porém a ditadura daria uma conotação muito diferente da esperada.  Porém o modelo adotado pela Reforma Universitária na verdade foi marcado pela intenção de preparar técnicos, mão-de-obra qualificada para atuar no mercado de trabalho, objetivando atender ao apelo desenvolvimentista.
            Conforme os supostos requerimentos do capitalismo brasileiro o governo devia investir na educação, conforme o ideário tecnicista.  Dando lugar à implantação de uma política de desenvolvimento de recursos humanos, subsidiada pelos aportes teóricos dos ideais do capital humano  e da modernização.
            Com a Reforma Universitária constatamos um terceiro momento de reestruturação do Curso de Pedagogia. O Artigo 30 da Lei 5.540/68 estabelece que "a formação dos professores para o ensino de segundo grau, de disciplinas gerais ou técnicas bem como o preparo de especialistas destinados aos trabalhos de planejamento, supervisão, administração, inspeção e orientação no âmbito de escolas e sistemas escolares faz-se em nível superior".
            A citada lei previa três ordens de habilitação:
a) "as especialidades" regulamentadas em lei, sujeita a currículo e duração mínima fixada pelo Conselho Federal de Educação “(Art. 26)”;
b) as outras especialidades que o Conselho Federal de Educação tinha por necessário ao desenvolvimento nacional (art. 260);
 c) as que as universidades e os estabelecimentos isolados resolveram oferecer "para atender às experiências de sua programação específica e fazer face às peculiaridades do mercado de trabalho regional"(Art. 18).
                        A Reforma Universitária também determinou os currículos mínimos dos Cursos de Pedagogia, que estavam constituídos por um ciclo de caráter comum formado por um bloco de conteúdos necessários para formação genérica, e um ciclo diversificado, constituídos pelas especializações, direcionado às habilitações específicas.
            Através do Parecer 252/69  foram determinadas as diretrizes dos Cursos de Pedagogia e sua duração.  Este Parecer determinou, que após os estudos de Pedagogia, o título obtido seria de Licenciado, e ainda, esclareceu que, qualquer que fosse a habilitação cursada, daria o direito aos habilitados de serem profissionais do ensino normal; incluindo-se para tal caso a disciplina Didática no ciclo comum, dado que dava um maior suporte teórico/prático ao desempenho desses profissionais.
            O Parecer 632/69 estabeleceu que a formação do educador devia dar-se em três planos: o das ciências básicas do homem, como fundamentação geral de todo estudo científico da educação; o das ciências humanas aplicadas ao conhecimento do processo educativo e assim qualificadas de educação; e da elaboração dos métodos e técnicas educacionais (SUCUPIRA apud BRZENKINSKI, 1996).
Mas apesar da grande repressão implantada pelo regime militar a sociedade brasileira foi-se organizando e resistindo aos embates contra a sociedade civil.  Assim, no final da década de 70, a classe trabalhadora ameaçada, começou a organizar-se, através dos sindicatos e associações que foram fortalecendo as lutas sociais.
            Esses movimentos passaram a se generalizar por várias categorias de profissionais, dentre elas a dos educadores que, através de suas associações, promoveram vários eventos na busca de reconquistar a sua identidade.  Por outro lado muitos educadores e intelectuais progressistas iniciaram uma crítica cerrada ao sistema questionando a política educacional.
            Deste modo, o Estado mudou sua estratégia de ação e atenuou o uso da força de repressão, procurando obter adesão espontânea das massas.  Iniciou um processo de cooptação da força trabalhadora e de suas organizações, na procura de combater o "comunismo" presente no movimento popular.  Assim, os acontecimentos político-econômicos que ajudaram a influenciar a formação e a prática dos Pedagogos.
O governo enfraquecido foi lentamente separando-se dos setores que inicialmente o haviam apoiado.  Os industriais perceberam que o governo militar era incapaz de conter os conflitos sociais e retirou-lhe o seu apoio.  Na década de 80, como conseqüência da ação dos movimentos sociais e da própria crise econômica foi lentamente conformando um cenário político-social que daria lugar a chamada "abertura política". 
            Uma vez instalada a Nova República, porém sem ter causado verdadeiras rupturas estruturais, inicio-se um novo período democrático marcado por muitas lutas sociais e demandas insatisfeitas.  Neste contexto os educadores consolidaram as suas associações de classe como a Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação-ANFOPE.
            Num contexto de muito debate foram, também redefinindo as diretrizes para os cursos de educação, que durante toda a década de 80 foram objeto de discussão.  Trazendo para o debate a questão do papel político do educador na luta pela democratização da educação na procura de uma educação para todos e de qualidade social. 
Participando neste cenário os educadores que defenderam a Pedagogia crítico-social dos conteúdos ou Pedagogia Histórico Crítica, objetivando superar as tendências tradicional e tecnicista das décadas anteriores.

O conceito de currículo e suas representações no Espaço Educativo
            Podemos identificar seis tendências explicativas para como se formam as representações, uma delas é atividade cognitiva do sujeito, este se encontra em uma situação de interação social (dimensão contextual) ou diante de um estímulo social e então surge sua representação ou a dimensão de pertença. O sujeito é um ser social e os valores, idéias e modelos do grupo a qual pertence, bem como suas ideologias interferem em sua representação.
A representação é considerada a expressão de uma determinada sociedade. Esta ainda pode de ser vista como forma de discurso, pela situação de comunicação e pela pertença e pela finalidade dos discursos. O sujeito produz uma representação que reflete as normas institucionais derivadas de sua posição ou das ideologias relacionadas com o lugar que ocupa no espaço social.
Ainda, as relações intergrupais determinam a dinâmica das representações. O desenvolvimento das interações entre os grupos modifica as representações que os membros tem de si mesmos, de seu grupo e de outros grupos.Resumindo, o meio interfere na constituição das representações e estas representações precisam de uma consciência que as sustente.
A construção coletiva das representações
Trata-se do processo pelo qual os diferentes grupos sociais, e os indivíduos que os integram apropriam-se de forma específica a cada um deles, das informações e dos saberes sobre um determinado objeto.
Estudos de Mollo (1979) atestam que as representações que alunos professores fazem um do outro conduzem suas relações pedagógicas. Albert (1986), observou ainda que as funções do professor são potencializadas, em sua eficácia quando ele é percebido favoravelmente pelo aluno. Experiências realizadas com camundongos demonstraram que toda vez que pesquisadores eram avisados que os camundongos que seriam utilizados em determinada experiência haviam sido considerados como inteligentes, o resultado da pesquisa era de muito boa qualidade e quando os pesquisadores eram avisados de que os resultados dos testes revelaram que os camundongos haviam apresentado um resultado medíocre em termos de aprendizagem, o resultado da pesquisa era ruim, o que vem corroborar com o fato de que criamos nossas representações e acreditamos nelas e acabamos por torná-las parte integrante do currículo, a representação de aluno e a representação de professor.
Currículo: Polissemia de termos e conceitos
O termo currículo surgiu na literatura educacional no início do século XX, nos Estados Unidos quando a industrialização toma impulso e a necessidade de mão-de-obra impõe-se de modo definitivo. O currículo escolar como os demais aspectos da vida social está impregnado e modelado por ideologias.
Durkheim destaca que as sociedades utilizam as instituições educacionais como meios de conservação do seu particular modo de existir.  Ou seja, a educação deve moldar os indivíduos a imagem que a cultura de um lugar estabeleceu para seus membros.
Aristóteles nos advertiu que polissêmico quer dizer, a existência de vários significados precisos, nomeados por um mesmo termo. Para Johnson (1967), currículo é uma série estruturada de resultados buscados na aprendizagem. Kearney e Cook (1969), dizem que currículo são todas as experiências que os estudantes desenvolvem sob a tutela da Escola. Os estudantes têm mais probabilidade de aplicar a sua aprendizagem quando reconhecem semelhanças entre situações encontradas na vida e as situações em que ocorreu a aprendizagem.
Boblitt (1971), aborda que currículo é aquele conjunto ou série  de coisas que as crianças e os jovens devem fazer e experimentar a fim de desenvolver habilidades que os capacitem a decidir assuntos da vida adulta. No olhar de John Dewey (1978), o currículo são sinalizações para mostrar ao mestre quais são os caminhos abertos para a criança. E Lawrence Stenhouse (1995), diz que  é um intento de comunicar os princípios essenciais de uma proposta educativa de tal forma que fique aberta ao exame crítico e possa ser traduzida efetivamente para a prática. Seria contraproducente optar por uma das tantas definições, supondo com isto dar por esclarecido o que é currículo. Para sintetizar todos os conceitos podemos dizer que currículo é a representação da cultura escolar.
Entre currículo e cultura escolar existe um vínculo insolúvel e que o currículo é uma representação da cultura. As revisões do estado e da arte das produções teóricos sobre currículo não conduzem a um consenso definitivo do que é currículo. Definem apenas os horizontes históricos nos quais o currículo (conceito e prática) foi interpretado e compreendido. Para Bourdieu e Passeron, as formas das desigualdades sociais e o modo de reproduzi-las  no currículo estão representadas de forma veemente.
Identidades de gênero: construções sociais e culturais
Historicamente a sociedade delimita os papéis a serem assumidos por homens e mulheres, determinando seus modos de agir, pensar e comportar. De um lado encontram-se os homens detentores de conhecimento, coragem e força. De outro, estão às mulheres com sua sensibilidade delicadeza e beleza. Percebe-se assim, que estes “atributos” masculinos e femininos estão enraizados na cultura e introjetados no ser humano de tal modo que aparentam fazer parte da “natureza humana”. A dicotomia entre corpo e alma, razão e emoção perpassa a história do conhecimento e reforça o reducionismo da mulher a sensibilidade, a fraqueza, a frigidez. A alma não apenas se distingue do corpo, como também está ligada tradicionalmente a racionalidade, ao universal, ao masculino. O corpo físico encontra-se associado à sensibilidade, ao particular, ou seja, ao feminino. O pensamento que continua vigorando é de que a mulher é permitido uma mente e um corpo, mas não os dois simultaneamente. Assim, ela jamais produziria a razão, pois já possuía a beleza.
Sob essa ótica a sociedade foi construindo uma cultura negativa do ser feminino que se baseia no entendimento segundo o qual as “deficiências”, “limitações”, e a própria inferioridade da mulher decorrem de sua própria natureza, ou seja, a condição inferior da mulher é vista como algo natural e portanto imutável.
A identidade e a diferença têm que ser ativamente produzidas. Elas não são criaturas do mundo natural ou de um mundo transcendental, mas do mundo cultural e social. Somos nós que as fabricamos, no contexto de relações culturais e sociais (Silva, 2000,p.76)
 
È na família que as identidades de gênero são constantemente produzidas. Orientam-se os comportamentos adequados, modos de agir, de se vestir a fim de se “enquadrar” nos parâmetros da sociedade. Os comportamentos que forem diferentes desta visão são interpretados como desvios e anormais. Aliado a isso está a Escola que, assim como a família é uma instituição inscrita nesta ordem social, “ela afirma o que cada um pode (ou não pode) fazer, ela separa e institui (Louro,1997, p.58). Poderíamos nos questionar aqui, mas a Escola não é um espaço de saber, de construção do conhecimento? De certa forma sim. No entanto, para termos uma melhor compreensão, é importante termos presente que as mulheres não pertenciam inicialmente a essa história de acesso ao saber. A identidade  e a diferença não são dadas pela natureza, mas cultural e socialmente produzidas, problematizando mudanças. Através de  nossos posicionamentos e identificações vamos construindo a  nossa identidade, permeados por relações sociais e culturais, ou seja,



É fundamental a compreensão de que assim como a família e a sociedade, a Escola através dos conteúdos e proposta pedagógica presente nos currículos também produz cultura e esta cultura impõe valores e modos de ser e agir, ou seja, educa e molda novas identidades. Sendo assim, no meio educacional, a compreensão de que homens e mulheres são seres humanos diferentes, mas não desiguais é essencial para o desenvolvimento de um trabalho pedagógico, onde as meninas e meninos de todas as etnias possam perceber que é possível conviver harmoniosamente num mesmo espaço educativo.
Material e Métodos
Conscientes das discussões que vem sendo levantadas nas Escolas em relação à importância de incluir nos currículos escolares conteúdos mais globalizados e a utilização do avanço tecnológico, os acadêmicos do Curso de Pedagogia realizaram durante 30 dias leituras sobre autores que embasariam a discussão proposta sobre currículo e ainda organizados em seis grupos sendo que dois grupos leram e apresentaram para os demais colegas de sala suas reflexões acerca do currículo, outros dois grupos leram sobre as questões de gênero, buscando os referencias de Simone de Bouveir. E ainda para que todas as temáticas que envolvem essa discussão fossem privilegiadas, outros dois grupos leram, apresentaram e promoveram a discussão em classe da temática apresentada por Stuart Hall no livro A Identidade Cultural na Pós modernidade com tradução de Tomás Tadeu da Silva. Após a realização de todas as leituras e apresentações através de mesa redonda, os acadêmicos elencaram as questões que seriam dirigidas aos representantes da gestão escolar do Município de Lucas do Rio Verde, as questões escolhidas pelos acadêmicos respeitaram os princípios utilizados de produção do conhecimento atuando os docentes realmente como mediadores do processo. Colocadas em fichas, as questões foram trabalhadas novamente pelos acadêmicos. Todos participaram ativamente, sendo que cada grupo responsabilizou-se por um aspecto da organização do evento, desde a busca de apoio financeiro, a través de patrocínios, passando pela decoração do local, equipamento de som, convites a imprensa local, autoridades e interessados na discussão sobre a gestão e o currículo. Para que fosse ressaltado o caráter transdisciplinar da proposta, foi desenvolvido ainda um estudo sobre as mais diversas formas de organizar-se um evento acadêmico científico envolvendo a disciplina de Metodologia da Pesquisa Científica. Foram trabalhadas as modalidades de seminário, fórum, simpósio e painel, sendo que os acadêmicos optaram por esta última modalidade. Participaram do evento autoridades educacionais locais, autoridades do município vizinho e sede da IES, Nova Mutum, e ainda alunos do Ensino Médio Integrado da Escola Estadual Dom Bosco, que realizaram apresentações artísticas referentes a produção de identidades e as relações dessa produção com   currículo e sua implicação na gestão Escolar.
Resultados e Discussão
            Após a realização do evento, realizou-se em sala um debate visando analisar aspectos positivos e/ou negativos da realização desse tipo de discussão, com o intuito de rever possíveis falhas para que os futuros gestores tenham no futuro familiaridade com a organização desse tipo de discussão que caracteriza a verdadeira gestão democrática onde todos têm espaço para expor suas ideias sobre as mais variadas temáticas. Só há possibilidade de existir uma educação democrática se a mesma for realmente entendida como um direito de todos e se for proporcionada de maneira em que o cidadão sinta-se apto a enfrentar desafios e liberdade de expressão. Entretanto, analisando as diversidades culturais constata-se que enquanto políticas educativas favorecerem a poucos não existirá  uma democratização do conhecimento, visto que uma vez que o aluno, mais especificamente o aluno dos Cursos de Pedagogia, tenha uma educação com qualidade e equidade terá condições de interferir positivamente na sociedade.
            A escola encontra-se desafiada a transformações, a construir de fato identidades através de conhecimentos significativos, porém ainda amarrada a burocracias, demandas e documentos que a impedem de tomar uma postura que mostre sua verdadeira identidade. Apesar de a escola ser gestora do conhecimento, a diversidade de enfoques a torna impotente nos seguimentos curriculares. Diante disso indaga-se, até que ponto a educação pode ser vista como de qualidade e um direito de todos?Será que a Escola está realmente preocupada em transformar, em resignificar os currículos? Qual a efetiva participação dos Cursos de Pedagogia nessa proposta de transformação? É muito difícil para uma sociedade consciente calar-se diante de tantos anseios, fingir que está bom como está e não mobilizar-se diante destas questões. É preciso que os cursos de Pedagogia tragam para o centro da sociedade essas discussões, que envolvam as famílias e que levem o que é discutido em sala de aula para além dos muros das Instituições de Ensino Superior. Através da Educação não se pode mudar totalmente os problemas que interferem no resultado de nossas ações pedagógicas , contudo , podem –se desenvolver mentes críticas na intenção de que cada uma dessas mentes exerça seu verdadeiro papel e construa um currículo carregado de significados e que respeite as diversidades culturais existentes em nossa sociedade.
Considerações Finais
A questão da Identidade está sendo extensamente discutida na teoria social, o Curso de Pedagogia é sem a menor dúvida o lugar perfeito para que se produzam estas discussões, até mesmo por que se faz urgente discutir a identidade do Curso de Pedagogia no Brasil, pois apesar das diretrizes curriculares nacionais, temos uma identidade para cada região do Brasil
Após a exposição das temáticas sobre currículo, identidade, representação e um breve revisitar da história do Curso de Pedagogia no Brasil acredita-se que fica evidente a importância de se conduzir tais discussões junto aos acadêmicos do referido curso, uma vez que para quem quer verdadeiramente fazer educação, e educação com qualidade e equidade, deve preocupar-se com a discussão destes temas que permeiam nosso cenário educacional.
Percebe-se a necessidade latente de abordar o currículo e suas representações, pois essa discussão não é nova e nem antiga, podemos dizer que ela é urgente e necessária, para que se possa instrumentar os futuros profissionais da Educação e confrontá-los com os referencias daqueles que hoje estão a frente de nossas Escolas como gestores, ou seja, conduzindo processos pedagógicos, atuando junto a produção de identidades e explicita ou implicitamente através de mecanismos de classificação proporcionando diferentes representações dos mesmos sujeitos.
Podemos citar aqui, Gracia (1988), quando nos diz que, sempre vemos o novo através de lentes antigas, deformando-o o suficiente para integrá-los em esquemas que nos são familiares. A discussão sobre currículo urge em nossos cursos de Pedagogia e a consequente definição de qual identidade queremos definir como sendo a verdadeira representação dos Pedagogos do Brasil. Por que como nos diz Hall apud Silva, 2006 p.9, “o próprio conceito com o qual estamos lidando, “identidade”, é demasiadamente complexo, muito pouco desenvolvido  e muito pouco compreendido para ser  definitivamente posto a prova.”
Devemos ter isso em mente quando nos propomos a discutir a necessidade e o impacto de uma mudança necessária nos conhecimentos e nos sujeitos que esses conhecimentos vêm produzindo.

 Referências
BRZESINSKI, Iria. Pedagogia, pedagogos e formação de professores: busca e movimentos, Campinas, São Paulo, Papirus, 1996.
HALL,Stuart. Tradução Tomaz Tadeu da Silva. A identidade cultural na Pós-modernidade. Rio de Janeiro, DPA Editora, 2006.

MOREIRA, Antônio Flávio Barbosa (Org.). Currículo:Políticas e práticas.Campinas, São Paulo,Editora Papirus,1999.

PEDRA, José Alberto. Currículo, Conhecimentos e suas representações. Campinas,São Paulo,1997.

ROMANELLI, Otaiza de Oliveira: História da educação no Brasil (1930/1973), 8. ed., Petrópolis. RJ: Vozes, 1978, 267 p.

SACRISTÁN, Gimeno. O currículo,uma reflexão sobre a prática. Porto Alegre, Editora Artmed,2000.

SALAZAR,Leopoldo Briones. Demandas de la sociedad Del conocimiento
a la gestión del currículum escolar. Revista Digital UMBRAL 2000 – No. 10 – Septiembre 2002.

SAVIANI,Dermeval. Política e Educação no Brasil. Campinas, São Paulo,2006.

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