domingo, 4 de setembro de 2011

INCLUSÃO SOCIAL E SUSTENTABILIDADE: A CONTRIBUIÇÃO DO DESIGN


Lurdete Cadorin Biava - lurdete@ifsc.edu.br[i]
Janete Rosa da Fonseca – projetistadm@gmail.com[ii]
Marisa Claudia Jacometo Durante - marisa@unilasallelucas.edu.br[iii]


Introdução

O design constitui uma área abrangente e comumente entendida como interdisciplinar, cujo espaço de atuação compreende o desenvolvimento de bens materiais e imateriais e atividades de caráter técnico, científico e criativo e artístico. Nesse espaço, tem o potencial de atender a necessidades de natureza diversa e de transformar realidades existentes em outras mais desejáveis para a sociedade, conforme descreve Coelho (2008).
No contexto do design, embora haja uma predisposição de que a área esteja a favor do desenvolvimento de bens de consumo para atender a necessidades muitas vezes supérfluas, há um viés dessa área que compreende atender a uma demanda da sociedade no atual contexto em que se encontra que é satisfazer outras necessidades, as de sobrevivência do mundo e das pessoas.
Nessa perspectiva, entende-se que a função do design vai além do desenvolvimento de produtos para atender à demanda de uma sociedade do consumo, compreende uma interação com a sociedade em todas as suas dimensões, principalmente na busca da qualidade de vida das pessoas. O design, assim, do ponto de vista da responsabilidade ética e social que lhe compete, deve atuar como desencadeador de projetos de desenvolvimento social em favor da sustentabilidade, não só de produtos, mas também de grupos produtivos para que os mesmos se mantenham economicamente a partir de sua cultura e de seus recursos próprios e que interajam socialmente, o que lhe confere uma importante atribuição em favor da inclusão social.
A educação que o profissional dessa área vai receber é fundamental para que ele atue nesse sentido, e a escola, nesse processo, por meio de suas práticas educativas, é determinante para desencadear a formação de um profissional cujas ações envolvam a responsabilidade ética e social. É dessas questões que trata este artigo, ao abordar o design e a sua função social, assim como a descrição de ações de estudantes dessa área voltadas para a inclusão social e a sustentabilidade.

O Design

Design, termo em inglês, mas de origem latina designo, entreas indicações na sua polissemia, compreende uma “disciplina de caráter passível de diferentes interpretações [...] um campo amplo de atividades (desempenhos) especializadas, de caráter técnico e científico, criativo e artístico” (COELHO, 2008, p. 187). No propósito de organizar, classificar, planejar, conceber, projetar, configurar sistemas de informação, objetos bidimensionais e tridimensionais, virtuais, ambientes ou espaços para a produção industrial e/ou artesanal, o design, no exercício de sua atividade, caracteriza-se como uma área de atuação que busca “equacionar, sistêmica e simultaneamente”, não só fatores ergonômicos, tecnológicos e econômicos, mas também sociais, culturais, antropológicos e ecológicos, o que o situa numa relação harmoniosa com o ser humano e com o ambiente em que este vive. Suas ações, assim, dado o caráter interdisciplinar que lhe é próprio, estão comprometidas com o contexto social e organizacional e exigem “interação, interlocução e parceria com vários sujeitos e suas visões de mundo”(COELHO, 2008, p. 188).
Segundo Vilém Flusser (2007), a palavra design tem um lado obscuro. Sobre isso, também diz que a palavra ocupa um espaço no discurso contemporâneo de aproximação entre o mundo da técnica e das máquinas e o das artes, ou seja, constitui uma conexão entre “o ramo científico, quantificável, ‘duro’” e “o ramo estético, qualificador, ‘brando’” (FLUSSER, 2007, p. 183), contudo, por assim o ser, tornou possível uma nova forma de cultura que traz à consciência a ideia de que toda cultura é uma trapaça e de que o envolvimento com ela é uma espécie de “auto-engano”, assim como a ideia “de que um ser humano é um design contra a natureza” (FLUSSER, 2007, p. 185). Nessa relação, criam-se modos artificiais de viver, consequentemente, destituídos de valor. Isso traz à luz a discussão sobre a responsabilidade social do designer, visto que, dependendo do design, as atitudes tomadas nessa área podem redirecionar os valores e, indubitavelmente, voltar-se para as necessidades de uma sociedade de forma natural e autêntica e não só artificial. Afinal, a mesma “mão que consome a cultura e a transforma em lixo”, como descreve Flusser (2007, p. 61), quando afirma que há um círculo vicioso de três mundos que circulam o homem – o da natureza, o da cultura e o do lixo -, pode produzir uma cultura imaterial, constituída de outros valores, como informações, as quais poderão garantir a existência desse mesmo homem.  
Desde sua origem acadêmica nas vanguardas do pensamento nos anos vinte do século passado, o Design já tinha um forte viés social ao considerar a fabricação e o uso dos objetos com vistas à qualidade de vida das pessoas. Na década de 1980, contudo, é que uma nova visão desse campo começa a ganhar espaço, e a preocupação volta-se também para problemas ambientais e sociais. É quando o designer Víctor Papanek (1927-1999), um dos precursores dessa nova abordagem, “defende um design recentrado no homem, na ecologia e na ética” (KAZAZIAN, 2005, p. 21). Em seu livro Design for the real world, publicado em 1971, influencia outros profissionais da área, ao destacar a responsabilidade moral do designer, a importância da sua relação com as pessoas e convidá-lo à sabedoria diante de sua produção. 
Atuando entre os objetos e as pessoas, mas para atender as necessidades destas últimas, o Design recorre a conhecimentos que não são apenas aqueles nos quais se baseiam os processos fabris, mas também, e principalmente, naqueles que buscam entender o ser humano em seus aspectos físicos, psicoemocionais, cognitivos e sociais. Nessa perspectiva, o design tem como meta mais importante superar os desafios sociais existentes, aplicando o design na forma de desenvolvimento de produto, gestão produtiva, comunicação ou da maneira que possa contribuir para a geração de renda, estimulando o desenvolvimento humano e social. .
Para superar os desafios sociais existentes, aplicamos o design na forma de desenvolvimento de produto, gestão produtiva, comunicação ou da maneira que possa contribuir para a geração de renda, estimulando o desenvolvimento humano e social.
No enfrentamento das dificuldades sociais, a aproximação dos excluídos junto ao mercado consumidor, utilizando o design como ferramenta de gestão e diferencial produtivo, tem se mostrado muito interessante no incremento das ações de geração de renda, e superando dificuldades que não haviam sido alcançadas com outras modos de desenvolvimento, é isso que estamos construindo.
Nossa missão é: Promover, estimular, discutir, estudar e aplicar o design transformando a sociedade em sustentável, equilibrada e justa.
Diferentemente do que propunha antes, então, em que a meta principal estava na produção de objetos úteis - como descreve Flusser (2007, p. 200), ao usar o exemplo das facas que “tinham que ser concebidas para cortar bem (inclusive a garganta dos inimigos)” - e bonitos, ou seja, de caráter funcional, o design, hoje, num caráter de urgência, como diz o mesmo autor, adquiriu um novo significado, que é a “questão da moralidade das coisas, da responsabilidade moral e política” (FLUSSER, 2007, p. 200). E entre os motivos dessa nova significação, sob a ótica desta discussão, em primeiro lugar é que a produção industrial, inclusive o design, serve-se de uma quantidade de informações oriundas de diferentes áreas e, por isso, não se limita mais a uma memória individual, exige a atuação em grupos, de tal forma que o processo de design depende de uma base cooperativa e, assim, estabelecida em uma espécie de código ético, na concepção do autor. Em segundo lugar, mas não menos importante que o motivo anterior, é que a responsabilidade moral por um produto não é exclusivamente do usuário, como o era antes; a responsabilidade das ações que derivam da produção industrial está relacionada a quem concebe os produtos, e a fabricação de facas, hoje, não é mais uma atividade livre de valores, o designer da faca é também responsável se ela for usada para cortar a garganta do inimigo, como descreve Flusser (2007).
O papel do design, assim, de acordo com Santos (2007, p. 65), é muito importante “diante das possíveis consequências de uma intenção de projeto destituída de ‘responsabilidade’”, visto que a chave para a mudança cultural em favor de modelos apropriados para o equilíbrio dinâmico do ambiente e da sociedade está na atitude para com os resultados do design

A função social do design

“Não há design fora da sociedade”, segundo Coelho (2008, p. 89), de modo que a função social do design acontece a partir das estruturas sociais a ponto de o campo social ser a base para a sua ação. Nisso está imbuído que a ação do design constitui-se em atender as necessidades de uma sociedade.  Entendendo, todavia, que necessidade, conforme descreve Coelho (2008, p. 77), significa não só a situação de dependência de um indivíduo aos objetos e instrumentos necessários à vida, mas também ao meio ambiente e que, no discurso formal de design, entende-se necessidade também como trabalho, alimentação, moradia, vestimenta, saúde e “outras relacionadas à sobrevivência e à manutenção fisiológica do ser humano”, não se trata a ação do designer a de desenvolver produtos para a sociedade tão somente, mas se trata também a de nela interferir positivamente.
Na descrição do contexto atual, discorrida por Bauman (2001), os riscos e as contradições da sociedade de antes não mudaram em relação às de hoje; contudo, mudou o dever e a necessidade de enfrentá-los a ponto de haver uma certa urgência no desenvolvimento de todas as instâncias da sociedade de uma ética que se empenhe pela integridade da “realidade sagrada primordial” do universo (O’SULLIVAN, 2004, p. 379, apud TESCAROLO e GASQUE, 2007). Nesse sentido, sendo o design uma atividade que está diretamente ligada a aspectos sociais diversos, não resta outra alternativa ao designer que não seja a de enfrentar os riscos e as contradições da sociedade com  a ética e a responsabilidade que lhe é exigida hoje.
Entre os princípios do design está o design social, o design universal e o design para a sustentabilidade. E as reflexões acerca dessas funções e das questões éticas a elas inerentes contribuem para a (re)produção de tecnologias sociais, em detrimento dos interesses exclusivos e excludentes do mercado. O processo de design de produto pode ser visto, então, como uma ferramenta social que transforma os aspectos socioambientais, os recursos disponíveis em elementos de uma ecologia de produtos mais favorável à sociedade e sua sustentabilidade; que busca a interação e a inclusão social, pela formação científica, humanística e tecnológica, integrada ao desenvolvimento econômico.
Enquanto o design social tem como objetivo principal satisfazer as necessidades humanas e transformar situações de desigualdade social e tecnológica, apontando recursos para destituir barreiras e para gerar melhorias (SILVA e PINTO, 2009), o design universal busca atender a todos, e o design para a sustentabilidade volta-se para a busca de soluções de design que objetivam atender as necessidades atuais da sociedade e para o desenvolvimento da consciência de que os problemas como a degradação do meio ambiente manifestam-se cada vez com mais frequência, que a natureza deve ser cuidadosamente zelada para que as gerações futuras tenham os mesmos direitos das atuais, conforme a definição dada ao termo desenvolvimento sustentável no Relatório Brundtland, em 1987, que as decisões econômicas constituem parte de um sistema ecológico e que tanto aquelas como este não podem ser pensados separadamente.
Segundo Manzini e Vezzoli (2002), o tema da sustentabilidade é o primeiro dos valores universais em potencial. Propõe o valor da responsabilidade nos confrontos das gerações futuras a ponto de todas as instituições sociais necessitarem manter-se em rede na busca comum da preservação da vida.
O design, assim, pode propor soluções para manter a qualidade de vida de uma sociedade, promovendo o desenvolvimento econômico e social, também com ações voltadas para a inclusão, para o resgate da cultura local e para a geração de rendas. Tem, nesse sentido, um valor indiscutível, porque pode interferir positivamente em grupos produtivos que não se sustentam, que não têm planejamento para o desenvolvimento de seus produtos, mas que detêm um conhecimento empírico e uma cultura que podem ser utilizados a favor da sua sustentabilidade e da sustentabilidade do meio em que vivem.
            Não é, dessa forma, somente no desenvolvimento de produtos voltados para a inclusão social que o design tem importante papel, é também na inserção dos referidos grupos produtivos no desenvolvimento, dando-lhes condições de sustentabilidade para que tenham autonomia e empoderamento para fazer parte do mundo do trabalho de forma igualitária a todos as pessoas.
Das ações motivadas por design, então, podem derivar ganhos diretos em qualidade de vida - pela melhoria da qualidade de produtos e equipamentos públicos,  geração de oportunidades de renda; pelo desenvolvimento de produtos e métodos adequados à pequena iniciativa, melhoria da competitividade das empresas; pela sustentabilidade do meio ambiente, das relações sociais e da subjetividade humana, e também ganhos em educação - tanto visando à formação para o trabalho quanto à educação para o consumo (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2010).
Dessa forma, o design tem uma função muito importante na sociedade, que é provocar transformação social, todavia se não há ética e clareza sobre o que faz, pode provocar mudanças negativas com as suas ações. O que ele quer para a sociedade e para onde quer que a sociedade vá modificam inteiramente o seu fazer design – desde a sua relação com a produção até a sua relação com a matéria-prima (SPOTORNO, 2010).
Junto ao debate sobre o desenvolvimento sustentável, aparece o conceito de projeto de produto sustentável, cujas definições, em sua maioria, contemplam a necessidade de que os projetistas assumam não a responsabilidade sobre o impacto ambiental de seus projetos ao longo do tempo, mas também sobre o impacto social e ético dos mesmos. Vale acrescentar que Papanek (2000) acredita na responsabilidade social dos projetistas, alegando que estes podem oferecer soluções de tecnologia adequada aos objetos e aos sistemas destinados à sociedade.
Fuad-Luke (2002) também acredita que os designers podem impedir a degradação do meio ambiente mais do que os economistas, os políticos, as empresas e, inclusive, os ecologistas, porque aqueles têm um poder catalisador. Por conta deles, as empresas gastam menos em materiais sem reduzir a produção e, por isso, obtém maiores benefícios. Por sua vez, os clientes desfrutam de produtos mais eficazes e econômicos, os governos reduzem gastos em inspeção, melhorando o meio ambiente e a qualidade de vida. Ao apontar esse potencial dos designers, pode-se concluir que nele está imbuído o desenvolvimento social, visto que, para Montibeller (2008), o conceito de desenvolvimento sustentável pressupõe um conjunto de sustentabilidades, resumidas em eficiência econômica, eficácia social e ambiental. Também para Forty (2007), nesse sentido, a atividade do designer é mais significativa do que se costuma reconhecer.
Embora Manzini e Vezzoli, em O Desenvolvimento de produtos sustentáveis (2002), apresentem positivismo em relação à possibilidade de um futuro sustentável, têm consciência da dimensão da mudança que se faz necessária para tal. Acrescentam à discussão o caráter ético, que trata do “princípio da equidade, pelo qual se afirma que, no quadro da sustentabilidade, cada pessoa (incluindo as gerações futuras) tem direito ao mesmo espaço ambiental, isto é, à mesma disponibilidade de recursos naturais do globo terrestre” (MANZINI e VEZZOLI, 2002).
Diante desses requisitos, os autores apontam o quanto e como o sistema de produção e de consumo das sociedades industriais contemporâneas está distante e como o esforço para aproximar-se da sustentabilidade deverá, ainda, articular-se, em planos diversos que requerem a intervenção de cada setor da sociedade, numa atitude imediata.
Por fim, no âmbito das questões aqui apresentadas, o design tem a contribuir para manter as condições atuais de vida às gerações futuras e, em vez de desenvolver projetos sob o ponto de vista da lógica e da racionalidade para atender a uma necessidade somente material deve dar lugar ao desenvolvimento de projeto que atendam também a outras demandas. Como aponta Santos (2007), cabe ao designer entender que o projeto integra situações de ordem complexa, que deve atender não só a demandas tecnológicas e econômicas, mas também sociais, culturais e ambientais, demandas de uma coletividade a que originalmente não atendia, pelo menos não sistematicamente. Santos vale-se de Fry (2005) para descrever que o entendimento do verdadeiro design de produtos está relacionado a modos de vida de acordo com os princípios da sustentabilidade e da continuidade da vida em comunidade.


Ações do design para a inclusão social e o desenvolvimento sustentável

No novo cenário societário em que se situa, conforme descrito anteriormente, num viés da sua função social, o design tem atuado em importantes projetos de ação social e ambiental, entre eles os que estão relacionados à preservação da cultura e do trabalho de comunidades produtivas, atuando para o desenvolvimento sustentável dessas comunidades e simultaneamente para que as mesmas mantenham os seus costumes.
Inclui-se nesse contexto o Design Possível (DP), um projeto de desenvolvimento social que busca, por meio do design e de forma participativa, a inclusão social e o desenvolvimento da consciência ambiental de comunidades em situação vulnerável. Envolve estudantes, professores, profissionais, ONGs e empresas na busca colaborativa com comunidades produtivas pelo desenvolvimento de produtos ecologicamente corretos e socialmente justos que promovam a sustentabilidade dessas comunidades. Faz não só o trabalho de desenvolvimento de produtos comercialmente viáveis, pautados na preservação ambiental, na sustentabilidade de recursos e na geração de renda, junto a comunidades carentes, como também o trabalho de comercialização desses produtos, o desenvolvimento de identidade de marca, além de um trabalho de gestão interna, para tornar a própria organização sustentável.
O projeto surgiu de uma parceria entre duas instituições, a Universidade Presbiteriana Mackenzie (São Paulo) e a Universidade de Firenze (Itália), em 2004, quando dois professores acordaram em desenvolver um projeto de intercâmbio para promover ações sociais e ecológicas por meio do design (MARTINS, SANCHEZ e PONS, 2007).
Numa extensão do Design Possível, instituições de outros estados assumem o compromisso de desenvolver ações da mesma natureza, e o Instituto Federal de Santa Catarina, mais especificamente um grupo de estudantes e professores do Curso Superior de Tecnologia em Design de Produto, em 2009, para ampliar o Plano Pedagógico do Curso Superior de Tecnologia em Design de Produto, dá origem ao Design Possível Santa Catarina (DP-SC) que tem como objetivo principal trabalhar a melhoria da qualidade de vida de Florianópolis junto a grupos produtivos organizados, proporcionando-lhes auto-sustentabilidade e empoderamento sobre seu desenvolvimento, respeitando características e potencialidades locais. Busca, assim, adequar-se às necessidades encontradas e auxiliar no processo de construção de uma sociedade melhor, desenvolvendo as suas atividades de modo cooperado, participativo e colaborativo junto às entidades com as quais estabelece parceiras, criando uma rede de ações que busca superar de modo conjunto os desafios sociais colocados no tempo atual.
Usa, para atender a esse objetivo, o design de produto como tema gerador e aglutinador de ações socioeconômicas com impacto direto na vida das pessoas, pela formação, capacitação e qualificação para a geração de renda nas atividades tradicionais da região florianopolitana. Foca sua atuação na gestão, na comunicação, na concepção e na comercialização de produtos para garantir que as comunidades atendidas alcancem a sua sustentabilidade, assim como a de seus produtos. A proposta dos projetos do DP-SC é capacitar e potencializar a capacidade produtiva de comunidades para que essas, a partir de suas habilidades, venham a desenvolver ações de geração de renda e, consequentemente, encontrar a independência financeira e a sustentabilidade. Importante lembrar que não se trata simplesmente de ensinar design, mas de desenvolver uma ação participativa, um construir junto, de modo que os atores envolvam-se no processo, o que fortalece a formação e assegura a autonomia dos grupos produtivos.
Nessa ação estão imbuídos valores referentes à viabilização dos recursos disponíveis em uma ecologia de produtos mais favorável à sociedade e sua sustentabilidade, com ações voltadas para a interação e a inclusão, para a geração de rendas, para manter a qualidade de vida de uma sociedade, promovendo o desenvolvimento não só econômico, mas também social, buscando equacionar fatores sociais, culturais, antropológicos e ecológicos, numa harmonia do homem com a natureza, atendendo as necessidades da sociedade atual sem comprometer os recursos das futuras, enfim, comprometendo-se com o contexto social e interagindo com os vários sujeitos e, principalmente, satisfazendo as necessidades humanas e transformando situações de desigualdade social e tecnológica, excluindo barreiras e gerando melhorias a todos. 
Embora a experiência do DP-SC seja breve, esteja ainda em processo inicial, percebem-se já resultados - os quais não é propósito aqui descrever – que justificam as iniciativas e que confirmam ser o design propulsor de transformações sociais ao contribuir para a inclusão social e para o desenvolvimento sustentável de pessoas que vivem em situações de vulnerabilidade, ditas excluídas social e economicamente, contribuindo, assim, para construir um país mais humano, democrático e solidário.

Considerações finais


A discussão aponta que a responsabilidade social do design é fundamental para impulsionar o desenvolvimento humano, e a sua atuação deve ter um caráter muito mais ético do que mercadológico, para o que precisa entender o ser humano em seus aspectos físicos, psicoemocionais e sociais. O impacto social e ambiental vai depender das suas atitudes.
Embora somente com grandes transformações sociais e políticas é possível que a inclusão social ocorra de fato, não se podem ignorar os fatores positivos das pequenas iniciativas. Nesse sentido, constata-se, dado o exposto anteriormente, que o design tem um papel fundamental nas iniciativas a serem tomadas para que essas transformações aconteçam. Todavia, se não há ética e clareza sobre o que faz, de fato, a atuação desse profissional pode provocar mudanças negativas na sociedade. Até porque, conforme descrito, o que ele quer para a sociedade e para onde quer que a sociedade vá modificam inteiramente o seu fazer, conforme descreve SPOTORNO (2010). A conduta que esse profissional vai assumir diante dos problemas sociais é definitivamente o que vai desencadear as boas ou as más decisões que irá tomar diante dos projetos que desenvolverá, quer sejam de produtos ou sociais. Participando de projetos dessa natureza, está sendo desenvolvida nos estudantes a melhor conduta a ser assumida enquanto futuros profissionais.
Nos projetos de design participativo, nos quais os estudantes participam como formadores, embora se perceba um impulso na gestão da autonomia econômica e sustentável dos grupos em formação e nas parcerias para a comercialização dos produtos por eles produzidos, observa-se, ainda assim, uma barreira simbólica em relação à linguagem que dificulta a interação entre ambas as partes atuantes, ou seja, entre grupos formadores e em formação. Há que se considerar que os acadêmicos de design, quando vão disseminar os seus conhecimentos nesses grupos, ainda, deparam-se com realidades completamente diferentes da acadêmica e nem sempre estão preparados para atuar na formação, o que justifica a necessidade de apoio pedagógico e de metodologias seguras para conseguir sucesso na interação com os envolvidos na formação. São ambos os problemas indícios da necessidade de estudos futuros para que essa relação se estabeleça com maior efetividade e para que a afetividade da relação e a estabilidade emocional dos atores envolvidos estejam asseguradas, de modo que as realidades se tornem coadjuvantes e interajam conjuntamente no desenvolvimento sustentável e consequentemente na construção do conhecimento, beneficiando tanto uma quanto a outra parte, a fim de que, consequentemente, os resultados sejam ainda mais promissores.
Importante ressaltar que, se na própria formação do designer, houver a aproximação do estudante com os princípios que deve seguir e com a realidade com que vai atuar, desenvolvendo-se projetos que o instiguem a resolver problemas nesse sentido, os resultados dessa formação, por certo, atenderão às novas necessidades da sociedade.
Vale considerar o que descreve Santos (2007) sobre a ação do designer, que deve ser cuidadosamente revisada, desde a sua formação. É imprescindível, assim, que sejam propostas ações de acordo com esses princípios já na formação desse profissional, de modo que esses valores tornem-se intrínsecos às suas atitudes não só enquanto estudantes, mas também enquanto atuantes profissionais. A postura crítica e consciente em relação aos seus próprios valores deve ser desenvolvida na sua formação a fim de que a sua atuação futura esteja garantida em relação aos valores éticos enquanto profissional responsável e consciente de seu fazer, da mesma forma que em consonância com o que propôs Papanek sobre um novo olhar do designer.
Enfim, é possível realizar uma aproximação entre academia e comunidades produtivas, cujos atores, por meio do design, seus métodos e ações, atuem de modo participativo, numa ação que se caracteriza como interdisciplinar e interinstitucional, para impulsionar a função que o design tem no desenvolvimento de uma sociedade mais humana, solidária, democrática e sustentável.

REFERÊNCIAS

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COELHO, Luiz Antonio L. (org.) Conceitos-chave em design. Rio de Janeiro: Edtora PUCRio. Novas Idéias, 2008.

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MONTIBELLER FILHO, Gilberto. O mito do desenvolvimento sustentável: meio ambiente e custos sociais no moderno sistema produtor de mercadorias. 2. ed. rev. Florianópolis: UFSC, 2008.

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[i] Licenciada em Letras. Mestre em Engenharia de Produção pela UFSC, Doutoranda em Educação pela Universidad Del Mar - Chile. Docente do Curso Superior de Tecnologia em Design de Produto do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina.
[ii] Pedagoga, Mestre em Educação, Doutoranda em Educação pela Universidad Del Mar - Chile. Coordenadora e docente do Curso de Pedagogia da Faculdade La Salle de Lucas do Rio Verde-MT.
[iii] Administradora, Mestre em Educação, Doutoranda em Educação pela Universidad Del Mar - Chile. Docente de cursos de Graduação e Pós-Graduação da Faculdade La Salle de Lucas do Rio Verde-MT.

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