domingo, 4 de setembro de 2011

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: UMA PROPOSTA DE INCLUSÃO SOCIAL NO NORTE DO ESTADO DE MATO GROSSO - UM OLHAR SOBRE A MELHOR IDADE



Lurdete Cadorin Biava - lurdete@ifsc.edu.br[i]
Janete Rosa da Fonseca – projetistadm@gmail.com[ii]
Marisa Claudia Jacometo Durante - marisa@unilasallelucas.edu.br[iii]


1 INTRODUÇÂO
A expectativa de vida da população brasileira vem aumentando significativamente, o que traz para discussão a necessidade de se desenvolver propostas de inclusão social para atender a esta parcela da população. O que fazer com nossos velhos? Com nossos jovens da melhor idade? A exclusão e a segregação a que foram submetidos durante décadas denotam o quanto a sociedade perdeu em não haver se preocupado com a instalação de políticas voltadas à inclusão destes que acabarão por ser o futuro do Brasil.
Cabe ressaltar que, contemporaneamente, questões relacionadas a este complexo binômio inclusão-exclusão têm figurado em muitas e em diferenciadas propostas educativas assumindo formas, algumas vezes, bastante controversas. Entre as propostas que se configuram como voltadas a tal objetivo, destacamos, por exemplo, as escolas cicladas, as turmas de progressão e a experiência denominada Educação de Jovens e Adultos (EJA), todas elas direcionadas a grupos de estudantes configurados ou como carentes, ou como deficientes, ou como portadores de atraso ou déficit em suas aprendizagens. A proposta aqui apresentada não se inclui muito claramente entre nenhuma das direções anteriormente indicadas, pois mostra a inclusão social de pessoas consideradas como inativas pela sociedade e que, mediante relatos obtidos, encontraram um novo objetivo de vida ao voltar ao cenário educativo; na convivência com o outro encontraram motivos para a autovalorização e consequentemente logrando a conquista de um novo espaço na sociedade.
É notório dizer que a escola institui seus espaços e tempos incorporando determinadas funções sociais, as quais organizam seu espaço e seu tempo a partir da organização social que a cerca. Apesar das inúmeras contestações que têm sido levantadas acerca da escola, e das inúmeras profecias já feitas acerca de seu desaparecimento, é possível dizer que em diversas instâncias da sociedade afirma-se, mesmo que de diferentes modos, que ela tem uma determinada função a cumprir.
Na educação de jovens e adultos inicialmente pensou-se apenas em incluir aqueles que a ela não tiveram acesso na idade considerada correta, mas oferecer esta modalidade educativa às pessoas da melhor idade proporcionaria a inclusão social na diversidade de saberes, de práticas e de culturas.

2 Breves considerações sobre a educação de jovens e adultos no Brasil

Basicamente, a educação de jovens e adultos começou no Brasil com os jesuítas quando esses educadores, através das crianças, pretendiam atingir também os seus pais, catequizando-os dentro dos princípios cristãos. Era um trabalho educativo, de forma indireta, sem uma preocupação específica com os adultos.
A história da educação brasileira não registra movimentos oficiais, campanhas de alfabetização de jovens e adultos, sistematizadas no período jesuítico. Quando os jovens ficavam em sistema de internato ou semi-internato, preocuparam-se em educar os mamelucos, os órfãos e os filhos dos principais caciques da terra incluindo, também, os filhos dos colonos brancos dos povoados. Não há, contudo, referências a sistematizações específicas para jovens e adultos em processo de alfabetização inicial. O trabalho atendia, primordialmente, à clientela infantil. Os escravos não tiveram muito espaço nas escolas jesuíticas, conforme assevera o historiador Jesuíta Serafim Leite (apud PAIVA, 2000, p.17):

Os jesuítas portugueses e brasileiros muito menos. Se não se admitiram nas escolas do Brasil os escravos, a razão foi a mesma que atinge hoje a grande massa do proletariado; não o permitiam as circunstâncias econômicas da terra, nem os senhores compravam escravos para os mandar estudar.

Isso ocorreu também durante todo o Império. Apenas, a partir da Revolução de 30 e, basicamente, após a 2ª Guerra Mundial, podemos identificar alguma preocupação sistemática com a educação de jovens e adultos. Uma primeira experiência que evidencia a preocupação com a especificidade da educação de adultos foi o Convênio Estatístico de 1931 que incluiu nas estatísticas oficiais a categoria do Ensino Supletivo.
Por meio desse Convênio, celebrado entre a União e os Estados, os amplos setores da sociedade participam de movimentos em favor da educação de adultos.Para que a educação de adultos represente uma verdadeira difusão cultural, recomenda-se a intensificação das salas de alfabetização de manhã, à tarde, à noite, aos sábados, domingos e feriados e que sejam verdadeiros centros de valorização da cultura popular. Essa efervescência cultural se desenvolve em quase todos os Estados, principalmente, no Nordeste.
Somente a partir da década de 1940 é que a educação de adultos foi tomando corpo e se constituindo como política educacional. A alfabetização era então considerada uma oportunidade ímpar de atendimento às classes trabalhadoras tanto urbanas quanto rurais.
Em janeiro de 1964 o Ministério da Educação aprovou o Plano Nacional de Alfabetização de Adultos, que previa a disseminação por todo o Brasil de programas de alfabetização orientado pela proposta de Paulo Freire. Este programa e outras experiências acabaram sendo interrompidos e desestruturados algum tempo depois sob violenta repressão ocasionada pelo golpe militar. Com a ditadura, muitos programas de alfabetização desapareceram.
Assim, a educação de jovens e adultos no Brasil tem sido constituída por dois tipos de movimentos: de um lado estão as pessoas que não tiveram oportunidades de fazer um ensino regular por vários motivos - sócio-econômico, cultural e outros -, são milhões de brasileiros que nunca estudaram ou que estudaram pouco, e muitas vezes são excluídas de participarem de uma vida social ativa, por falta de conhecimento, pois a educação é a principal porta para a socialização.   Do outro lado estão os educadores, que são grupos formados por professores, grupos sociais, órgãos públicos e privados, que não constituem um movimento articulado nas suas práticas e concepções, mas um movimento articulado na vontade política de corrigir uma injustiça social.
No Brasil, a educação de jovens e adultos é regulamentada pela Resolução CNE/CEB nº 1, de 5 de julho de 2000, e no art. 5º contempla:

Os componentes curriculares consequentes ao modelo pedagógico próprio da educação de jovens e adultos e expressos nas propostas pedagógicas das unidades educacionais obedecerão aos princípios, aos objetivos e às diretrizes curriculares tais como formulados no Parecer CNE/CEB 11/2000, que acompanha a presente Resolução, nos pareceres CNE/CEB 4/98, CNE/CEB 15/98 e CNE/CEB 16/99, suas respectivas resoluções e as orientações próprias dos sistemas de ensino.
Parágrafo único. Como modalidade destas etapas da Educação Básica, a identidade própria da Educação de Jovens e Adultos considerará as situações, os perfis dos estudantes, as faixas etárias e se pautará pelos princípios de equidade, diferença e proporcionalidade na apropriação e contextualização das diretrizes curriculares nacionais e na proposição de um modelo pedagógico próprio, de modo a assegurar:
I - quanto à equidade, a distribuição específica dos componentes curriculares a fim de propiciar um patamar igualitário de formação e restabelecer a igualdade de direitos e de oportunidades face ao direito à educação;
II- quanto à diferença, a identificação e o reconhecimento da alteridade própria e inseparável dos jovens e dos adultos em seu processo formativo, da valorização do mérito de cada qual e do desenvolvimento de seus conhecimentos e valores.

 

2.1 Andragogia, a ciência da aprendizagem adulta

Poucos sabem sobre o que vem a ser a andragogia, cuja definição não é encontrada na maioria dos dicionários. Por mais de cinco décadas, tem sido realizados esforços para formular uma teoria, a respeito das características únicas do aprendiz adulto. Assim, a andragogia refere-se às técnicas e métodos que consideram as particularidades da vida adulta no processo de ensino-aprendizagem.
Segundo Cazau (2001), entende-se por andragogia a disciplina que se ocupa da educação e da aprendizagem de adultos.  A palavra clássica pedagogia se aplica à educação de crianças como estabelece a etimologia. Já, para Ortiz (1983), o conceito de andragogia é um neologismo proposto pela UNESCO em substituição à palavra pedagogia, para designar a ciência da formação dos homens, de maneira que não haja confusão com a educação de crianças, sendo uma educação permanente.
O termo andragogia foi utilizado pela primeira vez por um professor alemão Alexander Kapp, em 1833, para descrever a teoria educativa de Platão. Mas, com o tempo, caiu no esquecimento. Anos mais tarde, no princípio do século XX, se volta a mencionar esse conceito por Eugen Rosenback, referindo-se ao conjunto de elementos curriculares próprios para educação de adultos como: os professores, os métodos e a filosofia.
Diferente das crianças em idade escolar, os adultos tendem a estabelecer interesses, metas e objetivos práticos para sua aprendizagem; têm motivação pelo desejo de crescer profissionalmente e/ou socialmente e buscam aprimorar suas habilidades e competências para enfrentar desafios e resolver problemas cotidianos. Sua bagagem cultural e suas experiências de vida servem como importantes recursos para o aprendizado, pois é a partir delas que os sujeitos fazem as devidas relações entre seus conhecimentos progressos e as novas informações ao seu alcance, construindo, assim, novos conhecimentos.
Os adultos têm necessidade de saber por que eles precisam aprender algo, antes de se disporem a aprender, e, quando eles se comprometem a aprender algo por conta própria, investem considerável energia investigando os benefícios que ganharão pela aprendizagem e as consequências negativas de não aprendê-lo.  E tendem ao autoconceito de serem responsáveis por suas decisões, por suas próprias vidas e, ao assumirem esse conceito de si próprios, eles desenvolvem uma profunda necessidade psicológica de serem vistos e tratados pelos outros como sendo capazes de autodirecionar-se, de escolher seu próprio caminho. Eles se ressentem e resistem a situações nas quais sentem que outros estão impondo seus desejos a eles.

3 RELATO DE EXPERIÊNCIA: UNIVERSIDADE DA MELHOR IDADE (UNIMI)- uma proposta de inclusão social diferenciada
A Faculdade de Sorriso (FAIS), com intuito de consolidar o compromisso social e cultural com a sociedade da Região Norte do Estado de Mato Grosso, criou no município de Sorriso-MT o Projeto Social da Universidade da Melhor Idade, democratizando o saber, possibilitando às pessoas da melhor idade o acesso à educação continuada, resgatando a autoconfiança e a autoestima, possibilitando a integração saudável com as diferentes gerações, oferecendo oportunidade de ocupação do tempo disponível com atividades prazerosas e produtivas.
O crescimento sem precedentes da população em idade considerada avançada tem provocado e apresentado alterações demográficas significativas nos últimos anos, o que ocasiona o aumento da perspectiva de vida do ser humano. Torna-se, então, necessário que esse ciclo de vida ampliado seja vivido até os últimos dias de forma intensa, saudável, autônoma e independente.
De acordo com Schoueri Júnior; Ramos; Papaléo Netto (1994) (apud ANDREOTTI; OKUMA, 1999), tradicionalmente o envelhecimento foi um fenômeno sempre estudado e analisado como uma característica de países europeus, pois nessas regiões 28% da população apresenta idade superior a 75 anos. A partir da década de 50, no entanto, tem ocorrido um crescimento expressivo da população idosa nos países de terceiro mundo.
Nesse contexto, a educação sendo contextualizada, torna-se fundamental para melhorar a qualidade e o padrão de vida das pessoas. Esse tema tem sido estudado por profissionais das diversas áreas de interesse (nutricionistas, desportistas, psicólogos, etc.) podendo auxiliar na conscientização das pessoas quanto à aquisição de hábitos mais saudáveis para evitar e/ou reduzir as condições de estresse, melhorando a qualidade de vida (QV). Fazendo parte deste conjunto de ações, a educação torna-se uma aliada indispensável.
Participaram desse estudo 26 pessoas em faixa etária igual ou superior a 60 anos, com uma proposta que visa à inclusão social por meio da educação de jovens e adultos na Faculdade de Sorriso (FAIS). Para tanto, utilizou-se de pesquisa bibliográfica, no sentido de obter o conhecimento sobre andragogia para fundamentar uma proposta que se atende às necessidades dos sujeitos envolvidos. Fez-se uso do método experimental, sendo observadas as situações problemáticas enfrentadas pelos participantes do estudo, bem como de seus familiares, pois, com o avançar da idade, a capacidade de movimentar-se é alterada por vários fatores, o que leva o ser humano a ter perdas na qualidade e quantidade de movimentos. Essa observação ocorreu em um período de 03 semestres, ou seja, fevereiro 2008 a julho 2009.
Durante a observação, corroborou a fala de Okuma (1997), que aponta que grande porcentagem da população acima de 60 anos tem dificuldade ou incapacidade de realizar atividades cotidianas como carregar um peso ou até de caminhar alguns quarteirões.
O crescimento da população de idosos, em números absolutos e relativos, é um proeminente fenômeno mundial e está ocorrendo em um nível sem precedentes. Produtividade e competitividade foram metas que se transformaram em condição de sobrevivência da humanidade, especialmente nesta última década do século XX. Esse processo, que exige cada vez mais das pessoas, faz com que elas passem a exigir cada vez mais de si mesmas, deixando de lado descanso e lazer, submetendo-se a uma rotina estressante, colocando em risco a sua própria sobrevivência.
Da mesma forma o sedentarismo torna as pessoas com a mínima expectativa de uma vida saudável. Voltar a estudar, desafiando suas possibilidades e tornando-se ousadas certamente abre novos caminhos para o mundo que se pretende. A reta ascendente do aumento da expectativa de vida das pessoas torna as mesmas mais confiantes na busca de novas alternativas para uma vida com mais qualidade.
No Brasil, o processo de envelhecimento populacional vem ocorrendo num ritmo acelerado e num curto espaço de tempo. As alterações na dinâmica populacional são claras, inexoráveis e irreversíveis. Atualmente a população brasileira com idade igual ou superior a 60 anos é da ordem de 15 milhões de habitantes. Projeções recentes indicam que esse segmento deverá representar 15% da população total em 2020, o que significará 32 milhões de idosos.
O Brasil está deixando de ser um País de Jovens, para se tornar um País envelhecente. Mas essa constatação gera novos desafios, pois o país ainda não resolveu problemas clássicos do subdesenvolvimento, como saúde, educação, saneamento básico, habitação, previdência social, transporte, urbanização etc.; e já se depara com esse contingente de idosos. Urgem trabalhos científicos e atenção diferenciada a essa população emergente.
O envelhecimento é cercado de mitos e preconceitos que necessitam ser derrubados, para que essa realidade de um País que envelhece transmute-se em uma população idosa com qualidade de vida. Entre os vários preconceitos, um dos maiores é quanto aos termos utilizados para defini-los. O censo comum traz embutido o velho como o decrépito, feio, ranzinza, avarento, doente, triste, o que leva as pessoas a não quererem envelhecer. Na tentativa de amenizar esse quadro, de diminuir os estigmas relacionados à velhice, foram criados novos termos para definir o ser envelhecido, tais como: idoso, terceira idade, melhor idade, adulto maior.
Dessa forma, acredita-se que a melhor forma de combater o preconceito quanto à velhice é por intermédio da informação científica de orientações balizadas, de trabalhos sérios, da educação gerontológica continuada.
A Faculdade de Sorriso situa-se com pioneirismo, vanguarda e responsabilidade junto à comunidade na qual está inserida. Fato é que, pela constatação do aumento da população idosa brasileira e pela carência desse contingente por novas formas de lazer, exercício de cidadania, lançou o primeiro curso superior de extensão universitária em Sorriso - MT.
            Com esse projeto, os acadêmicos deverão estar conscientes da responsabilidade social junto à população da melhor idade, deverão assumir o papel de multiplicadores na sociedade e participar de maneira efetiva nas organizações e nos movimentos sociais, independentemente da faixa etária em que se encontrem. Para isso desenvolve-se um conjunto de disciplinas por meio de atividades teóricas, dialógicas e práticas, que oferecem fundamentos específicos para a compreensão dos processos vitais fisiológicos, emocionais e da anatomia humana. Da mesma forma, há um incentivo à educação permanente, possibilitando o acesso às diferentes formas e produção de conhecimentos, pela vivência com atividades teóricas e práticas, relacionadas a oportunidades de melhoria da qualidade de vida na melhor idade. Ainda, desenvolvem-se processos cognitivos relacionados aos avanços educacionais, científicos e tecnológicos, fundamentalmente ligados aos avanços de novas tecnologias, consolidando o compromisso social e político da instituição de ensino com a sociedade, realizando momentos interativos entre os cursandos, os acadêmicos e a sociedade em geral, de modo que, por meio de uma programação multidisciplinar, possam-se mostrar ações que possibilitem melhorar o convívio desses idosos com suas respectivas famílias. Promove-se, assim, a integração dos discentes da IES com os participantes do Projeto UNIMI, valorizando ainda mais a interação entre idosos e futuros pedagogos, baseada principalmente na troca de experiências vivenciadas por ambos.
Inúmeras mudanças têm ocorrido no cenário global. Isso aumenta a preocupação sobre o valor que uma vida sadia tem para as pessoas e estimula estudos sobre a qualidade de vida. No final do século passado, os anos 90 trouxeram, somado a todas as mudanças que ocorreram nessa década, o Instituto Qualidade de Vida, o qual tem sido utilizado tanto para avaliar as condições de vida urbana, incluindo transporte básico, lazer e segurança, quanto para referir-se à saúde, conforto, bens materiais. Embora fazendo parte do cotidiano, os parâmetros para a definição do que é viver com qualidade são múltiplos e resultam das características, expectativas e interesses individuais (BOM SUCESSO, 1997).
O conhecimento científico e racional que está associado à medição e a enunciados quantitativos traz insegurança ao se lidar com os valores, qualidades e experiências humanas, dificultando a compreensão das pessoas quanto ao significado do Instituto Qualidade de Vida, tão difundido nos meios de comunicação.
Alguns conceitos básicos são importantes para a compreensão do que seja qualidade de vida, como, por exemplo, nível ou padrão de vida e estilo de vida (Souza, 1999). Para esse estudioso, nível ou padrão de vida de uma pessoa refere-se a quanto ela preenche ou não padrões de natureza econômica e social. Nesse contexto, qualidade de vida pode ser entendida como sinônimo de nível ou padrão de vida, medido por meio de parâmetros como a posse de bens materiais, prestígio social, status, etc. Estilo de vida refere-se à maneira como alguém se posta diante da própria vida: formas que uma pessoa escolhe para conduzir e fazer escolhas nos diversos aspectos e situações da própria vida.
Pode-se deduzir, portanto, que não é fácil um conceito definitivo e preciso de qualidade de vida. A tendência atual é considerar a qualidade de vida sob um enfoque multidimensional, no qual se incluem as condições de saúde física (inclusive de mobilidade), o repouso, as funções cognitivas, a satisfação sexual, o comunicarem-se, o alimentar-se, a reserva energética, a presença/ausência de dor, o comportamento emocional, o lazer, o trabalho, a vida familiar e social (SILVA, 1998).
Qualidade de vida (QV), enfim, diz respeito a quanto uma pessoa efetivamente usufrui daquilo que tem, natural e material (Souza, 1999). Portanto, pode-se entender qualidade de vida como o nível alcançado por uma pessoa na consecução do seu plano de vida, de uma forma hierarquizada e organizada.
Estabelecer um plano de vida e ter condições de, não necessariamente realizá-lo por completo, lutar por ele é, pois, condição indissociada de uma boa QV e da felicidade, dado que essas duas condições – felicidade e qualidade de vida – embora não sejam sinônimos, andam de braços dados e são, a rigor, inseparáveis. Pode-se então entender a QV como um grau de satisfação do indivíduo com a sua vida e um grau de controle que sobre ela exerce.
O programa, a saber, destina-se a pessoas com idade igual ou superior a sessenta anos por se tratar de uma proposta de inserção social do idoso. “O Projeto Social da Universidade da Melhor Idade da Faculdade de Sorriso” não visa a qualquer vantagem financeira e não prevê qualquer custo financeiro aos participantes. Dessa forma, a execução da proposta curricular somente se viabiliza mediante a efetivação de parcerias.
O currículo foi desenvolvido por meio de amplo programa educacional e cultural, com vistas a atualizar conhecimentos, promover a interação social e despertar o interesse pela educação permanente. Foram oferecidos entre outras atividades: Conferências, Palestras, Seminários, Fórum, Congresso, Grupos de Trabalho e Pesquisa, Excursões, Visitas a Museus, Feiras, Intercâmbio, etc...
O Projeto da “UNIMI-FAIS”, além de atividades de lazer, esporte, cultura e turismo, oferece um curso completo na área de Gestão da Qualidade de Vida na 3ª Idade, com carga horária de no mínimo 280 horas, com disciplinas nas áreas da Saúde, Humanas, Sociais e Culturais, com o objetivo de fornecer orientações teóricas aliadas à prática, que possibilitem aos acadêmicos um envelhecimento com saúde e participação ativa na sociedade sob uma perspectiva crítica.
Além disso, a partir do segundo módulo (a proposta é organizada em módulos e cada um atende a um eixo temático), visando a uma maior integração entre os acadêmicos do Curso de Pedagogia e os do projeto UNIMI, trabalhando de forma integrada, os estudantes trocaram experiências importantes, o que enriqueceu o mundo do futuro pedagogo e, concomitantemente, privilegiou e enalteceu todo o contexto vivenciado por aqueles que tanto podem ajudar com seus conselhos e relatos de vida.
O projeto trabalhou uma metodologia voltada para a prática, para o quê, em cada disciplina, foram criadas oficinas aplicadas para a comunidade de acordo com suas necessidades.
O curso corresponde a três semestres letivos, e as aulas são ministradas em módulos distribuídas em três dias da semana: terças, quartas e quintas-feiras.
Para o desenvolvimento do projeto foi necessário realizar parcerias com os poderes constituídos nas diferentes esferas, envolvendo, por exemplo, Secretarias de Educação, de Promoção Social, de Saúde, de Cultura, de Meio Ambiente, Esportes etc., instituições de ensino superior, privadas e ou públicas, entidades, clubes de serviço e a sociedade civil em geral. Os profissionais voluntários envolvidos no projeto foram: servidores públicos, profissionais da iniciativa privada e estagiários (as) de instituições de ensino superior acompanhado (as) pelos docentes das disciplinas envolvidas no projeto.
No decorrer da elaboração até a implantação do presente projeto, além do envolvimento e comprometimento de profissionais e técnicos do serviço público e profissional liberais das diferentes áreas do conhecimento, já se construiu uma parceria com a Prefeitura Municipal de Sorriso, por meio da Secretaria de Promoção Social que foi significativa e decisiva para viabilizar essa importante ação de construção da cidadania na chamada “MELHOR IDADE”.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A EJA é uma modalidade que concede direito ao adulto de continuar seus estudos, ajudando-os em sua vida social, cultural, econômica etc. E a principal característica desta clientela em procurar a educação de jovens e adultos reside em melhorar o poder aquisitivo, necessidade de trabalhar para ajudar a família, entre outros.
Essa educação é aplicada em alunos de 18 anos ou mais, com comprovante de escolaridade ou não. No caso de não haver, poderá ser feito um teste e assim o professor sabe em qual ciclo o estudante se encaixará.
O profissional apto a trabalhar com esses clientes deverá ser capacitado para a modalidade, conhecendo bem a andragogia que é a ciência do estudo de jovens e adultos.
A metodologia aplicada deve ser heterogênea, observando suas diferenças e suas limitações. Os educadores devem se reunir pelo menos duas vezes por semana para elaborar seus planos de aula de acordo com as necessidades dos alunos do EJA, buscando a promoção pessoal e a qualidade de vida dos acadêmicos da melhor idade.
Dessa forma, entende-se que o perfil do pedagogo de EJA deverá ser de pesquisador, com capacidade de percepção e flexibilidade.


REFERÊNCIAS



ANDREOTTI, R.A; OKUMA, S.S. Validação de uma bateria de testes de atividade de vida diária para idosos fisicamente independentes. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, v.13, jan-jun,1999.

BOM SUCESSO, E. de P. Trabalho e qualidade de vida. Rio de Janeiro: Ed. Dunya, 1997.

BRASIL. Resolução CNE/CEB Nº 1, de 5 de julho de 2000. Estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação e Jovens e Adultos. Disponível em http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CEB012000.pdf. Acesso em 31/01/2011.

CAZAU, P. Andragogia. Buenos Aires, 2001.

CONVÊNIO Estatístico de 1931. Disponível em  http://www.ibge.gov.br/projetos/comite_estatisticas_sociais/?page_id=98. Acesso em 31/01/2011.

OKUMA, S. S. O idoso e a atividade física. 4 ed., 1997.

ORTIZ, Jiménez Goria, “Que es la educación a distancia?,  Tight, M. 1983. Adult Learning and education. London.


PAIVA, J.M. Educação jesuítica no Brasil colonial. In: LOPES, E.M.T. et al. (Org.). 500 anos de educação no Brasil. 2. ed. Belo Horizonte:
Autêntica, 2000

SILVA, P. G. A importância da Atividade Física para Idosos Asilados na Qualidade do Trabalho do Cuidador. Disponível em: <http://www.google.com.br>

SOUZA, A. C. C. Atividade Física em uma Instituição de Longa Permanência para Idosos. Uma reflexão sobre o seu significado. Goiânia, Go. 1999.

NOTAS FINAIS



[i] Licenciada em Letras. Mestre em Engenharia de Produção pela UFSC, Doutoranda em Educação pela Universidad Del Mar - Chile. Docente do Curso Superior de Tecnologia em Design de Produto do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina.
[ii] Pedagoga, Mestre em Educação, Doutoranda em Educação pela Universidad Del Mar - Chile. Coordenadora e docente do Curso de Pedagogia da Faculdade La Salle de Lucas do Rio Verde-MT.
[iii] Administradora, Mestre em Educação, Doutoranda em Educação pela Universidad Del Mar - Chile. Docente de cursos de Graduação e Pós-Graduação da Faculdade La Salle de Lucas do Rio Verde-MT.

Nenhum comentário:

Postar um comentário