domingo, 4 de setembro de 2011

O PAPEL SOCIALIZADOR DA CIÊNCIA: UM NOVO TRATADO PEDAGÓGICO.


Valdenice Hart [1]
Janete Rosa da Fonseca[2]

RESUMO: Neste trabalho, foi realizado, um levantamento de dados, sobre a realidade tecnológica e científica   da educação básica do município de Sorriso - MT,  com o objetivo de gerar uma reflexão, sobre o desenvolvimento daquela para uma possível superação das desigualdades sociais encontradas no município.
Palavras – Chave: Tecnologia, Ciência, Desigualdades sociais, Educação Básica.


A evolução do conhecimento humano e a ciência proporcionam aos povos que participam de fato de seu desenvolvimento uma melhor qualidade de vida. Isto é alcançado mediante a sofisticação da atividade humana em seus aspectos sociais, econômicos, culturais e artísticos. Os povos que não participam do desenvolvimento científico estão, em grande medida, com déficits de qualidade de vida e são economicamente subalternos em relação aos povos que lideram os avanços do conhecimento.
É possível afirmar que uma nação tem a incumbência de disponibilizar condições favoráveis de sobrevivência para seus habitantes, para isto é relevante diminuir com a disparidade entre classes e possibilitar a ascensão social dos cidadãos. Todos devem ter acesso a uma educação de qualidade e o país necessita investir em ciência e tecnologia, para, assim alcançar o seu desenvolvimento, dando mais condições de vida digna a seu povo.
O processo de produção do conhecimento torna-se mais competitivo, e sofre significativas transformações na sua organização social, que podem contribuir para ampliar as desigualdades existentes no contexto contemporâneo (GIBBONS, 1994). Quanto maior for o afastamento da ciência menor será o desenvolvimento do país e pior será a qualidade de vida do seu povo. Se a meta é a diminuição das desigualdades sociais uma das alternativas é aperfeiçoar o desenvolvimento tecnológico - cientifico.
Diante das dificuldades de compreender o mundo sem o conhecimento dos princípios básicos da ciência e da tecnologia, torna-se fundamental o aumento do capital cultural  da população através de uma educação científica (TOFFLER, 1970). Esta educação voltada para o aprimoramento da ciência prepara o aluno para o futuro tecnológico, garantindo o desenvolvimento nacional. Para o sucesso desta alternativa julga-se indispensável o desenvolvimento de pesquisa dentro das instituições de ensino, desde a educação básica até os cursos de nível superior.
A educação é uma resposta para a busca incessante do homem e é possível para o homem porque este  é um ser  inacabado e sabe-se inacabado. Isto o leva a perfeição. A educação implica uma busca realizada por um sujeito que é o homem. O homem deve ser o sujeito da própria educação e não o objeto (FREIRE, 1979).  Consciente das indagações sem respostas que impulsionam à elaboração de pesquisas e consequentemente a significativa importância desses resultados para a evolução humana, este artigo objetiva gerar uma reflexão sobre a aplicação e o desenvolvimento da ciência  e da tecnologia no âmbito da educação básica, bem como a possível utilização desta para o aplainamento  das disparidades sociais.


MATERIAL E MÉTODOS

No período de 24 de julho a 04 de agosto de 2008 foram distribuídos questionários em sete escolas do município de Sorriso – MT, sendo três municipais, duas estaduais e duas particulares. Optou-se pela pesquisa de cunho exploratório e qualitativo,  com questões abertas e amostragem não probabilística por julgamento (MATTAR, 1996).
 A escolha da amostragem foi definida de forma a contemplar as diferentes realidades educacionais nos três âmbitos (municipal, estadual, privado) da educação básica, uma vez que o município dispõe de quatro escolas da rede privada, três  da rede pública estadual e 28 da rede pública municipal. Todos os questionários foram respondidos pelos gestores destas instituições de ensino.




RESULTADOS E DISCUSSÃO

As escolas estão preocupadas com a adaptação as inovações tecnológicas e cientificas, porém nem todas dispõem de acesso a estas tecnologias (Figura 1). Estes índices demonstram certa deficiência do sistema de inovação brasileiro, que pode ser identificada tanto pelo percentual relativamente baixo de gastos com Pesquisa e Desenvolvimento no país, como pelo desperdício de oportunidades oferecidas pela infra-estrutura científica ao setor produtivo (ALBUQUERQUE & SICSÚ, 2000).
            Das escolas pesquisadas, a rede privada possui um maior número de laboratórios, que são os de Informática, Biologia, Matemática e Química, havendo ainda carência como, por exemplo, Laboratório de Física. As estaduais possuem apenas laboratório de Informática e de  Biologia, isto causa preocupação já que estas escolas têm um elevado número de alunos matriculados no ensino médio e deveriam ter disponível estes recursos. As municipais têm somente laboratório de Informática, isso pode ser explicado pelo fato destas possuírem apenas Educação Infantil e Ensino Fundamental, mas os laboratórios de Biologia, Matemática contribuiriam para um melhor  aprendizado destes alunos.
            Esta diferença quantitativa de laboratórios, verificada entre as  redes privada, estadual e municipal, revela a existência de disparidades educacionais entre elas, constatando-se que o ensino particular detém uma melhor qualificação tecnológica, ou seja, dispõe de mais recursos para um eficaz desempenho do aprendizado. Logo os alunos que estudam nestas instituições estarão  melhor preparados para a disputa de vagas em  cursos de nível superior e, posteriormente, no mercado de trabalho.  

Figura 1. Escolas da rede Privada, Estadual e Municipal de Sorriso - MT, e a porcentagem de Laboratórios. Sorriso, FAIS, 2008.
            As diferenças na distribuição regional dos recursos científicos e tecnológicos são muito acentuadas. Basta salientar, por exemplo, que 82% dos grupos atuantes em pesquisa, no país, estão nas Regiões Sudeste e Sul. A base técnico-científica instalada no Brasil tem, assim, sua expressão mais potente nessas duas regiões, para onde é canalizada a maior parte dos investimentos em ciência e tecnologia realizados pelo governo brasileiro (BARROS, 2000). É cabível salientar que esta pesquisa abrange a educação básica, quando o maior investimento neste aspecto no Brasil é no ensino superior e que ainda é bastante tímido nesta região.
Todavia as escolas estão realizando projetos de pesquisa, principalmente na rede privada, porém, é sabido que ainda não estão em um patamar alto de produção cientifica, o que pode se dar em virtude da falta de profissionais com esse perfil, já que a região centro-oeste não dispõe de um número considerável de professores-pesquisadores ou da falta de recursos financeiros. Na mensuração dos projetos de pesquisa houve alguns equívocos nos levantamentos de dados, pelo fato da não diferenciação entre projetos de pesquisa e projetos culturais e sociais. Isso induz a busca eminente de formação de professores- pesquisadores, que tenham a didática de inferir no aluno o desejo pelo conhecimento, desvendando o novo e o desconhecido.
Um fator de importância no âmbito cientifico é a divulgação dos trabalhos realizados, requisito que o universo pesquisado tem contemplado com sucesso, pois estes divulgam as pesquisas por meio de Feiras do Conhecimento, Amostra Pedagógica, Amostra Científico – Cultural e Workshopping. O que ainda inquieta é a pequena quantidade de escolas que divulgam os trabalhos via computacional(informaticamente), o equivalente a 15% da amostragem, isto respalda o quão aquém está o acesso dos alunos e da comunidade em geral a está inovação tecnológica.
Existe participação dos alunos em eventos como a Olimpíada da Matemática, Olimpíada de Português, Concurso de Poesias, em todas as escolas.  Também há incentivo para a participação daqueles, através de aulas extras, e motivação. Julga-se relevante o incentivo financeiro para facilitar o envolvimento dos alunos.
            Pode-se perceber com os dados, obtidos, que as escolas da rede privada ocupam um lugar de destaque no que tange as questões de tecnologia e inovação, consequentemente os alunos do setor público estão em desvantagem, tendo maiores dificuldades de ascender socialmente.
Também é importante reconstituir uma visão radical da alfabetização que gire em torno da importância de nomear e transformar as condições ideológicas e sociais que solapam a possibilidade de existirem formas de vida comunitária e pública organizadas em torno dos imperativos de uma democracia crítica. Precisa-se fazer mais do que esclarecer o alcance e a natureza do significado do analfabetismo, é fundamental desenvolver uma prática pedagógica que ofereça uma linguagem de esperança e transformação (FREIRE, 1990).  O poder mediatizador da ciência sobre as desigualdades sociais deve e precisa ser considerado, por que o processo de desenvolvimento que os alunos irão experimentar fará com que os mesmos busquem através dessa ferramenta, alternativas de reversão de suas condições.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Devemos aceitar ou refutar os resultados de uma pesquisa que nos mostra que existem falhas em nosso processo de educar focados em ciência e tecnologia? Percebemos que podemos e devemos nos utilizar dessas tecnologias para romper as desigualdades, mesmo aquelas que dizem respeito aos profissionais da educação e seu preparo para lidar com elas.
Novos horizontes, novas possibilidades descortinar-se-ão diante de seus olhos e os remeterão a uma busca constante. Pois na verdade o acesso ás tecnologias permite um momento de descoberta e a escola passa a ser definidora de situações.
Para tal, quando falamos em desigualdades e em marcação das diferenças sociais, devemos lembrar que isso implica também em sentimentos e atitudes e que até então a prática da desigualdade perpetuou-se pelas relações de poder existentes, pois, tecnologias não são só hardwares mas sim softwares e que novas metodologias de ensino também podem ser consideradas tecnologias.
E ainda assim se continuarmos pensando que tecnologia não reduz desigualdades sociais devemos lembrar que conhecimento sim. E a forma como se faz conhecimento é tecnologia.






REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


ALBUQUERQUE E. M; SICSÚ J. Inovação institucional e estímulo ao investimento privado. São Paulo em Perspectiva, 2000. p. 109.

BARROS F. A. F. Os desequilíbrios regionais da produção técnico – cientifica.  São Paulo em Perspectiva, 2000. p. 12-14.

FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 24° edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.

FREIRE, Paulo, MACEDO, Donoaldo. Alfabetização: leitura do mundo, leitura da palavra. 3° edição.  Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.

GIBBONS, M. et alii. The new production of knowledge. Londres, Sage, 1994.

MATTAR, Fauze N. Pesquisa de Marketing. 6° edição. São Paulo: Atlas, SP, 1996.

TOFFLER, A. Future Shock. Toronto Bantam Book, 1970.

http://www.sorriso.mt.gov.br/site/secretarias/index.php?codigo=4&area=missao
Data de acesso: 07/08/2008 ; 00:35h


[1] Acadêmica do curso de Pedagogia da Faculdade de Sorriso – FAIS – MT.
[2] Professora orientadora – Pedagoga e Mestre em Educação.

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